O Gatilho, Tim Butcher (Bertrand Editora)

O autor, repórter de guerra, acompanhou a guerra da Bósnia. Anos mais tarde regressa à Bósnia e Herzegovina para procurar o rasto e os motivos que levaram um jovem sérvio, Gavrilo Princip, a empunhar o revólver e a disparar contra o herdeiro do império.
A pesquisa e o seu relato são acompanhados da descrição da vida atual naquele novo país, bem como da recordação omnipresente e constante da guerra. Reconhece, a propósito da guerra dos anos 90, que se tornou tão complexa, devido às alianças e conflitos entre as três etnias que as histórias nos jornais tornaram-se cada vez mais rebuscadas e cometeram-se erros, como não podia deixar de ser (p.130).
Se neste caso fala de erro, quanto à história de Princip fala em distorção: A partir do momento em que o Império Austro-Húngaro, face a provas evidentes do contrário, adulterou premeditadamente as motivações do Princip para justificar os seus ataques à Sérvia, a distorção foi introduzida na narrativa fundadora da Primeira Guerra Mundial (p. 314).
Mas o que mais me impressionou foram as palavras ditas por Arnie, muçulmano bósnio, que foi tradutor do autor durante o período da guerra e o acompanhou na parte inicial desta viagem, quando diz que seria impossível voltar a viver na Bósnia e Herzegovina, por causa do bem e do mal viverem tão perto um do outro: a luz e as trevas, o amor e o ódio. (...) lá no fundo, sei que, quando se trata do que aconteceu aqui, a etnia pode ser tóxica, pode contar mais do que o facto de a nossa natureza ser amável e generosa.
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