Nunca me deixes, Kazuo Ishiguro (Gradiva)
Desde o momento em que começamos a ler o livro apercebemo-nos que há um segredo por detrás da história que nos é contada e que é verdadeiramente terrível. Suspeitei do que poderia ser. Uma parte de mim queria confirmá-lo, para decidir se deveria ou não continuar a ler, mas a outra parte só queria prosseguir com a leitura. O livro é tão bom e está tão bem escrito, que nos envolve totalmente e sentimos que fazemos parte dele. E, ainda que saibamos o tal segredo a meio do romance, acaba por ser bastante secundário e, como o próprio autor descreve (em entrevistas a que assisti posteriormente), serve quase só para justificar uma base para a história - uma história de amizade. Talvez a mais bonita que já li.
Kathy H., a narradora, tem 31 anos e exerce a função de «ajudante», enquanto aguarda para se tornar «dadora». As histórias que vai contando, giram em torno de reminiscências da sua vida até aquele momento, e incluem sempre os seus amigos mais chegados: Tommy e Ruth. Com eles partilhou a infância em Hailsham, um colégio de elite, e o período de transição para «a vida real», na Herdade. Por entre os episódios dentro de episódios que nos vai contando, é quase impossível pousar o livro. Apaixonei-me completamente pelas personagens, senti que vivi tudo o que elas viveram e, mesmo agora, mais de uma semana depois de ter terminado o livro, sinto saudades deles. As passagens que poderia por aqui não serviriam para mostrar o âmago do livro. É mesmo preciso lê-lo.
O romance foi adaptado para cinema, uma aproximação muito fraca do livro de que não gostei. No entanto, faço minhas as palavras da atriz Keira Knightley acerca da história: «É uma história de amor, uma história de amizade, e do aceitar da própria mortalidade». É essa aceitação conformada que torna o livro tão comovente e as personagens e respetivas interações tão enternecedoras.
«Agora que Hailsham pertencia ao passado, e antes de nos tornarmos ajudantes, antes das lições de condução e de tudo o resto que nos aguardava, talvez nos fosse possível esquecer quem éramos durante algum tempo; esquecer tudo o que os tutores nos tinham dito; (...) esquecer todas as teorias que tínhamos desenvolvido entre nós aos longo dos anos. A ilusão não poderia durar muito, é certo, mas, só por alguns meses, talvez pudéssemos sonhar as nossas vidas futuras sem pensar nas limitações habituais.»
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Mesmo assim quero ver o filme.
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Claro! Quando lemos um livro que é adaptado para o cinema, temos sempre curiosidade de ver o filme. De qualquer forma, se o tivesse visto antes de ler o livro provavelmente não teria tido a curiosidade contrária. O livro tocou-me muito - como disse no seu blogue, acaba por ser um livro sobre a condição humana - e penso que o filme não conseguiu captar a essência e a beleza da história.
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