De que falamos quando falamos de amor, Raymond Carver (Editorial Teorema)

    Já tinha lido "De que falamos quando falamos de amor" há muitos anos. Recentemente uma amiga disse-me que tinha perdido este livro e queria muito recuperar justamente esta edição, o que foi possível e de forma muito acessível na Déjà lu. 
    Devido ao confinamento, não pude entregar-lhe o livro e aproveitei para relê-lo. À medida que o lia apercebia-me de semelhanças da escrita de Carver com a escrita de Flannery O'Connor, e ainda que os contos de ambos acabam no momento certo. Aquelas personagens, aquelas histórias terminam ali. Nos contos de outros autores sinto muitas vezes que poderiam continuar, que o fim é uma escolha arbitrária do autor. Ao contrário, os contos de Carver e de Flannery acabam quando têm de acabar, quando seria impossível continuar. Há um enorme desespero na maioria dos contos, são quase as palavras das imagens de Hooper. Imaginamos gente solitária, desesperada, pobre. Com medo. Aliás este sentimento aparece em quase todos os contos. Temos a sensação que algo de mau vai acontecer, que nos vai ser contado ou vamos assistir. Algo que os próprios protagonistas ainda desconhecem.
    O conto que dá o título ao livro "De que falamos quando falamos de amor" é muito atual. Provavelmente será sempre atual. Afinal de que é que falamos quando falamos de amor? É amor alguém que bate no outro, que o arrasta pelo chão, pelos cabelos, ao mesmo tempo que declara o seu amor?
    "(...) - Uma noite, bateu-me. Arrastou-me pelos tornozelos à volta da sala de estar, não parando de dizer: «Amo-te! Amo-te puta de merda!» Continuava a arrastar-me pela sala. A minha cabeça não parava de bater nas coisas. Terri olhou em redor da mesa. - O que é que uma pessoa faz com um amor assim?"
    Era amor o que deixou de ser e foi substituído pela raiva ou tão somente pelo esquecimento?
   "Houve uma altura em que pensava que amava a minha primeira mulher mais do que a própria vida. Mas agora odeio o ar que ela respira. Não tenho dúvidas. Como é que isso se explica? O que é que aconteceu a esse amor?"
   O amor físico, inicial, é amor? Ou somente é amor o sentido por dois velhos depois de uma vida em comum que, mesmo em sofrimento, não passam sem olhar o outro?
    E podiam ser outras pessoas, noutra altura, noutro local, a ter a mesma conversa, a trocar argumentos e a tentar perceber do que falamos quando falamos de amor. E do que falamos afinal quando falamos de amor?

Comentários

  1. Esta edição será aquela com os cortes do "editor" Tenho duas edições da Teorema (com uma capa diferente) e da Quetzal Editores com o título O que sabemos do Amor - o mesmo livro, mas quase não o parece ser devido aos cortes na primeira. Há também uma edição da Relógio de Água que penso também será completa

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  2. Boa noite,sou aluna do 2º ano da licenciatura em Educação na Universidade do Minho (Campos de Gualtar-Braga) e, no âmbito da cadeira de Educação e Literacias, foi-nos proposto fazer um trabalho sobre grupos informais nas redes sociais, ao que uma das perguntas base é: "Para que fins as pessoas lêem e escrevem nas redes sociais? E o que é que lêem e escrevem nessas mesmas redes?". Deste modo, e sem me querer alongar muito, vi que é a Sra.Ana e Sra. Sofia é fazem as publicações no blogue, o qual vejo com frequência
    (e aprecio imenso a iniciativa, daí ter escolhido este grupo), e que agrega uma grande comunidade, com interesse pela leitura. Deste modo, gostaria de saber qual foi o principal motivo para a criação da página, se se encontram satisfeitas com o vosso alcance e, quiçá, aspetos positivos e negativos que possam realçar.

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    1. Cara Eduarda, Vai ter que nos desculpar por não lhe ter respondido, mas um bloqueio no blogue que não consigo explicar, impediu a receção da sua e de outras mensagens. Presumo que já não iremos a tempo de lhe responder, mas espero que continue e ler o nosso blogue e a participar.

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