La solitude du docteur March, Geraldine Brooks (Pocket)

Geraldine Brooks @ Clube de Leituras       Este livro significou muito para mim há alguns anos. Em 2004, a minha mãe estava a recuperar de um gravíssimo problema de saúde e a minha amiga Cinda falou-me neste livro. Pensei que a minha mãe gostasse de o ler, dada a sua ligação ao livro As mulherzinhas, de Louise May Alcott, que não só tinha lido e relido, como tinha insistido comigo e com a minha irmã, quando éramos miúdas, para que o lêssemos.
    A primeira e a última páginas deste livro, La solitude du docteur March, têm assinalados os dias de início e fim da sua leitura (04.04.2014 a 26.06.2014) e confirmam o interesse que teve na sua leitura, numa fase em que ainda estava muito debilitada.

    Confesso que fiquei muito surpreendida por ter encontrado o livro As Mulherzinhas no desafio 100 livros da BBC, mas penso que a leitura deste livro mo fez ver sobre uma outra perspetiva, embora me pareça que o mérito é, sobretudo, deste último. Provavelmente se o lesse agora teria uma visão distinta, mas a ideia que conservo é da vivência das quatro irmãs, muito diferentes entre si,  num mundo relativamente protegido, com a mãe e uma criada devotadíssima a elas, e que se dedicavam sobretudo à caridade para com os que eram ainda mais pobres que elas. Uma das irmãs, distinguia-se das outras, pelo seu espírito rebelde e pela vontade de ser escritora e não se limitar a sonhar com o casamento. O pai delas estava na guerra e um dia recebem a notícia que teria sido ferido.
    Geraldine Brooks conta a história do pai das mulherzinhas, que é capelão (docteur?) e que parte para a guerra para acompanhar os jovens soldados da sua terra que se tinham alistado. Tanto quanto me recordo, no livro As mulherzinhas, não resultava de forma óbvia o envolvimento de toda a família  na luta contra a escravatura, nem sequer a causa da perda da fortuna familiar, e a autora aproveita estes espaços vazios para nos dar o retrato de uma família politicamente empenhada e envolvida na luta contra a escravatura. Este livro é centrado essencialmente no pai, praticamente ausente do outro, e, simultaneamente, dá-nos uma visão distinta das filhas e da mulher.
    Penso que foi um ato de coragem escrever este livro. Pegar numa história que tem a projeção de As Mulherzinhas e escrever a história do docteur March, encaixando perfeitamente uma na outra como se fossem duas peças de um puzzle é  um trabalho fascinante. No posfácio, a autora explica que o romance de Louise May Alcott  mostra a forma como um ano vivido numa situação de proximidade da guerra modificou a personalidade das quatro filhas, nada sendo dito sobre o efeito da guerra no pai, que a viveu, e é neste vazio que deixou trabalhar a sua imaginação.
    O livro (March - A Love Story in a Time of War, em inglês) ganhou o prémio Pulitzer em 2006.
    Em português, foi editado pela Oceanos, com o título O Idealista - Uma História de Amor em Tempos de Guerra (esgotado).

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