O Gigante Enterrado, Kazuo Ishiguro (Gradiva)

Imagem da capa do livro de Kazuo Ishiguro, O Gigante Enterrado, pela Gradiva, em recensão no blogue Clube de Leituras
    Este livro foi-me difícil de ler, por vários motivos. Em primeiro lugar, custou-me não me sentir impelida a ler em todos os momentos - algo que já sentira com Remains of the Day e que me deu semelhante sensação de desilusão, após a leitura de Nunca Me Deixes. Em segundo lugar, porque me parecia inicialmente que prometia uma história de descoberta pelos recônditos da memória, numa alegoria aos seus segredos, usando como pretexto os tempos após Rei Artur; na verdade acabou por se tornar mais uma aventura de cavaleiros, duelos, criaturas míticas... Por fim, e talvez por ter demorado bastante tempo a ler e bastante tempo à espera do esclarecimento que nos seria dado quanto ao que a "névoa" que apagava as memórias das pessoas da região escondia, não consegui - de início - compreender o fim, além do que me senti enganada ao não ver as minhas dúvidas respondidas. Foi preciso algum tempo de reflexão e debate para que o meu namorado sugerisse uma hipótese que, de repente, fazia todo o sentido.
    No princípio da história conhecemos Axl e Beatrice, um casal idoso que mora perto da entrada de uma gruta que alberga vários outros habitantes, e que decide empreender uma viagem há muito adiada para rever o filho que há muito se foi embora. No entanto, as suas recordações do seu tempo junto, do porquê da ausência do filho e mesmo do motivo para adiar a viagem estão submersas na tal "névoa" de esquecimento. No seu caminho, cruzam-se com Wistan, Edwin e Sir Gawain, sobrinho do falecido Rei Artur e acabam enredados em conspirações, feridas e ressentimentos do passado - e uma missão para destruir o dragão Querig.
    O livro tem passagens muito bonitas - isso é inegável! E, correndo o risco de que, como eu, fiquem à espera de mais relativamente a este comovente casal, aqui fica uma:

   «Estás tão segura, boa senhora, de que desejas libertar-te dessa névoa? Não é melhor algumas coisas permanecerem ocultas das nossas mentes?»
    «Pode ser que assim seja para alguns, irmão, mas não para nós. O Axl e eu desejamos recuperar os momentos felizes que partilhámos. Ser despojados deles é como se um ladrão tivesse passado de noite e roubado o que tínhamos de mais precioso.»
    «Mas a névoa cobre todas as recordações, tanto as más como as boas. Não é verdade, senhora?»
    «As más também regressarão, ainda que nos façam chorar ou tremer de cólera. Pois não é essa a vida que partilhámos?»
       
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