Sociedade dividida, Raphael Lima (motoreditorial)

Raphael Lima @ Clube de Leituras    Fiquei curiosa com este livro que foi apresentado pela Teresa no âmbito da disciplina Escrita de Viagem, lecionada pelo Paulo Moura. Para o escrever, o autor percorreu e fotografou os países e regiões da ex-Jugoslávia, cerca de duas décadas depois da guerra.
    Como ele próprio explica, estava dividido entre regressar a Chipre ou Belfast, onde concebeu o projeto que dá o nome a este livro, ou ir «para a antiga Jugoslávia e entender os motivos que levaram ao colapso do país na década de 1990, após quase quarenta anos sob o comando do Marehal Josip Broz Tito e passados mais de dez anos, após a sua morte, com nacionalismos cada vez mais exacerbados». Optou pelo último. Começou por Belgrado, capital da Sérvia, justamente a 18 anos sobre o início do bombardeio da NATO. As fotografias mostram uma cidade ainda fortemente marcada pela guerra. Daí, depois de ter assistido a um jogo de futebol, parte para Vukovar na fronteira com a Croácia e que foi o palco de uma das piores batalhas. Também aqui as marcas da guerra são evidentes: «(...) a impressão é de que a cidade havia saído da guerra há menos de um ano».
    Segue para Sarajevo e, entre as suas deambulações, com reflexões sobre a cidade e a guerra, menciona o documentário Miss Sarajevo. Finda a viagem, falou com Alma Catal, a protagonista, que lhe descreveu a sua vida na cidade durante a guerra, e com o realizador, Bill Carter. Este diz-lhe que esteve em Sarajevo pela última vez em 2009 e que a «cidade, de certa forma, recuperou-se visualmente, mas há muitas cicatrizes escondidas debaixo daquilo que terá uma, duas gerações para desaparecer».    
    Vai a Srebrenica, Mostar, Podgorica, Kosovo, Pritina, Skopje, Junta às suas reflexões fotografias a preto e branco dos locais por onde passa, onde a destruição causada pela guerra está sempre presente, e depoimentos de residentes. Em Kosovo, um indivíduo diz-lhe que viveu em cinco países sem sair de casa - nasceu na República Socialista Federal da Jugoslávia, depois viveu na República Federal da Jugoslávia, em seguida na Sérvia e Montenegro, na Sérvia e agora no Kosovo.
    Na parte final da viagem, cita Tito que teria dito:«ninguém se questionou quem era sérvio, croata, muçulmano, éramos todos um povo, foi assim na época e ainda penso que é assim hoje».
 
    Em Mostar, na Bósnia, encontra esta frase numa parede:
    «Cuidado com seu inimigo, mas cuidado com seu amigo cem vezes mais. Se seu amigo se tornar seu inimigo, ele pode te machucar muito mais».

    Quando acabei de ler, senti que faltava alguma conclusão, algum sentido ao percurso feito, que não fosse meramente descritivo. A sensação com que fiquei da leitura foi a de que perpassava por todos os entrevistados a mesma tristeza, a guerra ainda muito presente e alguma nostalgia pelo passado.

   Uma nota final para a edição do livro que, como se refere na contracapa, foi feita por autores, leitores e editores na plataforma de edição em rede motoreditorial.org.

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