Timão de Atenas e Rei Lear, William Shakespeare (Relógio D'Água e Caminho)

 
O Rei Lear "@ Clube de Leituras"
    A leitura da obra Timão de Atenas foi feita para a disciplina da Escrita para Teatro. Confesso que não conhecia esta obra de Shakespeare, considerada uma peça menor, pelo que fiquei surpreendida ao descobrir que já tinha sido levada a cena muitas vezes, mesmo em Portugal,  que H. Purcell  compôs uma ópera e que Duke Ellington compôs igualmente a música Timon of Athens. Confesso também que não gostei particularmente de ler esta peça. Para além de me parecer uma obra fragmentada, dividida em duas partes, a história é pouco interessante. Mesmo o exercício de procura de um significado menos evidente ou menos óbvio para a peça e, sobretudo, para o próprio Timão, não tornou a peça mais apelativa.
    Quando concluí a leitura, e por me parecer que a questão podia não residir na obra em si, mas na minha falta de hábito de leitura de peças de teatro, para mais de época, decidi ler o Rei Lear. 
    E, neste caso, a minha experiência foi totalmente diferente. Nem o facto de conhecer a história tornou desinteressante a leitura, pelo contrário, foi difícil  interrompê-la, porque queremos saber o que vai acontecer às diferentes personagens. O Rei Lear tem tudo, tragédia, traição, amor, demência... Há também uma inegável atualidade na questão das relações familiares, do apoio das filhas ao velho pai que, depois de dividir o reino entre elas, teria combinado que se hospedaria alternadamente em casa  das duas filhas mais velhas, que logo depois lhe recusam o que tinham acordado.
    Não resisto a roubar uma das últimas falas de Lear quando, embora desgraçado, se reconcilia com a filha mais nova:
    (...) Vamos para a cadeia, anda; sozinhos os dois cantaremos como pássaros na gaiola. Quando pedires a minha benção, pedirei de joelhos o teu perdão. Assim viveremos, cantando e rezando, e contando velhas histórias, e rindo das borboletas doiradas, e ouvindo pobres diabos falar das notícias da Corte; e nós falaremos também com eles, de quem perde, de quem ganha, de quem entra, de quem sai; e, como se fôssemos espias de Deus, tomaremos a nosso cargo explicar o mistério das coisas; dos muros da prisão, veremos partidos e seitas dos grandes da terra subir e descer, no seu constante fluxo e refluxo.
    Uma curiosidade final: a tradução desta edição do Rei Lear é de Álvaro Cunhal.


***

Quero ler!

Comentários

Os mais lidos

O Sétimo Juramento, Paulina Chiziane (Sociedade Editorial Ndjira)

Niketche, Paulina Chiziane (Caminho)

Os Bem-Aventurados, Luísa Beltrão (Editorial Presença)