As Irmãs Soong, Jung Chang (Quetzal)

Jung Chang "@ Clube de Leituras"    Desta autora, Jung Chang, li Cisnes Selvagens, provavelmente no ano em que foi editado em Portugal, em 2009. É um livro inolvidável. Aprendemos a história da China através da vida e dos olhos de três mulheres de três gerações, a avó, a mãe e ela própria, Jung Chang. Não li entretanto outros livros dela que foram traduzidos e editados em Portugal, mas não resisti a incluir este na lista de prendas do Pai Natal, que sabiamente correspondeu.
    Também neste livro se trata da história de três mulheres, as irmãs Soong - as três irmãs de Xangai -. A mais velha, Ei-ling, tornou-se uma mulher riquíssima e ao longo da vida foi manipulando as pessoas, em especial a irmã mais nova, sempre em defesa da família. A segunda, Ching-ling, casou-se com Sun Yat Sen e teve depois lugar de proeminência durante o regime de Mao. A terceira, a irmã mais nova, May-ling casou com Chiang Kai-shek, nacionalista e que terminou por ser derrotado por Mao, passando a viver e a controlar Taiwan. Na contra-capa é referido que a primeira adorava o dinheiro, a segunda o poder e a  terceira o país, mas este não é sequer um resumo justo da vida e das características das três irmãs.
    O livro é interessante e lê-se bem, apesar da dificuldade em dominar os nomes e reconhecer as diversas personagens que vão aparecendo. Mas não é um livro apaixonante  como o outro. A capacidade que Jung Chang teve nos Cisnes Selvagens de transmitir a vida e os sentimentos das personagens não foi aqui conseguido. Neste livro, As irmãs Soong, ela é meramente uma narradora. Muito episodicamente passa para a primeira pessoa do singular (eu própria...) e dá-nos uma perspetiva mais pessoal. 
    Talvez pelo escrutínio a que seria sujeita neste caso, há um cuidado excessivo com as fontes e com a exatidão das situações que narra (tem 20 páginas de bibliografia e 32 de notas) perdendo de vista a história das três mulheres, ao contrário do que aconteceu com os Cisnes Selvagens. O leitor vai acompanhando a vida política chinesa, e as relações de poder internas e externas, e o papel que as irmãs desempenharam, mas quase sempre de forma secundária. Ou, pelo menos, praticamente sem emoção.
    Em qualquer caso, é uma história - ou são muitas histórias - absolutamente fascinante, a forma como estas irmãs desempenham papel tão relevante e estão ao lado de quem ocupa o poder, apesar das vicissitudes e mudanças  que o pais vive e enfrenta. Estando em lados diferentes mantém-se apesar de tudo unidas:
    "(...) Esta pergunta tão direta apanhou Ching-ling de surpresa, porque as irmãs sempre tinham evitado conversar sobre as opiniões políticas de cada uma.  Com efeito, ao mesmo tempo que fazia tudo o que estava ao seu alcance para ajudar Mao a derrotar Chiang, a Irmã Vermelha enviava petiscos (por exemplo, camarões de água doce) à mulher do Generalíssimo, que correspondia enviando-lhe bolo de gengibre e biscoitos de queijo; a Ei-ling mandava medicamentos para os olhos, e enviava livros pelo correio a filha de TL. Tudo isto como se as tremendas batalhas que se travavam em seu redor fossem irrelevantes para as vidas delas."
    
    Uma palavra final para a excelente edição da Quetzal, tradução, revisão e edição, ainda que prefira que as notas apareçam no rodapé e não nas últimas páginas. No final do livro indicam o autor  (William Caslon, 1692-1766) dos caracteres que utilizam, bem como o tipo de papel no qual foi impresso.  

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