Birras de Mãe, Isabel Stilwell e Ana Stilwell (Livros Horizonte)
Deixei recentemente de ser apenas filha e passei a ser filha e mãe. Naturalmente, a minha mãe deixou de ser apenas filha e mãe e passou a ser também avó. A alegria é enorme para qualquer uma, apenas um pouco mais ténue porque, por causa da pandemia, não pudemos acompanhar-nos tanto nem preparar-nos juntas como eu muito teria gostado. Ainda assim, penso que para ambas, foi com alguma surpresa que, com a vinda do meu filhote, vimos surgir também alguns momentos de discórdia. Inevitáveis durante o processo de adaptação, dir-me-ão (e disseram), mas, ainda assim, inesperados.
Por isso, quando soube que tinha sido escrito um livro pelas mãos de uma filha-mãe e da sua mãe-avó, que pretendia abordar precisamente estes choques - geracionais, conceptuais e familiares, «Guerras entre uma avó e uma mãe livres do politicamente correto» - pareceu-me interessante dar-lhe uma vista de olhos e, quiçá, passá-lo à minha mãe.
Por isso, quando soube que tinha sido escrito um livro pelas mãos de uma filha-mãe e da sua mãe-avó, que pretendia abordar precisamente estes choques - geracionais, conceptuais e familiares, «Guerras entre uma avó e uma mãe livres do politicamente correto» - pareceu-me interessante dar-lhe uma vista de olhos e, quiçá, passá-lo à minha mãe.
Não posso dizer que tenha sido um livro que adorei, mas foi uma boa leitura, leve e descontraída, que até tocou em alguns pontos nos quais me revi ou que, de alguma forma, considerei importantes. E deixo algumas dessas passagens:
«Acho que, como todas as mães, estamos sempre a tentar aperfeiçoar-nos, descobrir a pedagogia, a receita, o caminho melhor para nos relacionarmos com os nossos filhos. É uma das grandes diferenças das novas gerações de mães. Ser mãe passou a ser também um caminho de transformação e crescimento pessoal. E eu acho isso espetacular.»
«Ser avó [...] é lembrar os pais que "Vai passar", escondendo o medo de que não passe, porque se a idade nos mostrou que mais de metade das nossas angústias nunca chegam a acontecer, também nos tirou a ilusão de que as coisas más não acontecem às pessoas boas.»
«Para os avós é fácil, porque é apenas reconhecer um sentimento que já conhecem de cor e salteado, amam os netos como amam os filhos, é uma entrega que não tem nada que saber, com a vantagem de .que desta vez não estão a recuperar da violência do parto ou da anestesia de uma cesariana. O mais difícil vem depois quando, de repente, percebemos que o papel que nos está reservado é o de retaguarda; que aqueles bebés não são nossos nem voltam para casa connosco.»
«...para o bem e para o mal continuamos a ser os vossos filhos. É verdade, temos de crescer. Deixar de precisar tanto da vossa bênção. Conseguir assumir as nossas diferenças e as nossas escolhas. Da mesma forma que vocês precisam de deixar de sentir cada escolha nossa como uma afronta às vossas próprias opções. Ou de se perderem em ansiedade perante o nosso cansaço e dificuldades.»
«Questionem-nos sobre outras coisas que não os miúdos, dando-nos a hipótese de voltarmos a ser um bocadinho mais vossos filhos e menos pais dos vossos netos.»
No global, penso que é uma excelente ideia, mas que poderia ter sido mais trabalhada. Admito que se tenha pretendido manter as mensagens originais trocadas entre mãe e filha, mas o livro ganharia muito se tivesse sido mais explorado. Nisto incluem-se gralhas, que uma revisão rápida teria detetado. Mais do que isso, a sensação com que fiquei em algumas cartas foi a de que os temas lançados não o eram de forma natural e só eram aflorados e não aprofundados, e também por isso não senti que fosse um livro que fugisse ao politicamente correto, como prometia De uma forma geral, gostei mais das cartas da filha-mãe do que das da mãe-avó, mas fora algumas das quais roubei as citações acima, a quase todas faltava qualquer coisa...
Durante a leitura, por várias vezes dei por mim a pensar que seria o género de projeto que eu poderia fazer com a minha mãe - aliás, lanço-lhe o desafio! E acredito que ficariam cartas mais bonitas, mais honestas e mais profundas, independentemente do tema.
Durante a leitura, por várias vezes dei por mim a pensar que seria o género de projeto que eu poderia fazer com a minha mãe - aliás, lanço-lhe o desafio! E acredito que ficariam cartas mais bonitas, mais honestas e mais profundas, independentemente do tema.
Que tal, mãe, aceitas?
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