The Handmaid's Tale, Margaret Atwood (Vintage Classics)
Já li The Handmaid's Tale (A História de Uma Serva, em português) há bastante tempo. Segundo o Goodreads, terminei-o há quase um ano! No entanto, ainda a ajustar-me a todas as mudanças (boas!) que têm acontecido na minha vida, pouco me sobra para me dedicar à revisão dos (muito poucos) livros que vou lendo.
Uma coisa é certa: adorei lê-lo, sofri e revoltei-me com ele e até me soube bem ler uma história diferente da da série, que vi antes de ler. Na verdade, a série vai ainda mais além do romance, além de se passar na atualidade, enquanto o romance é já mais antigo (e percebe-se)
O livro, vencedor do Man Booker Prize, é uma distopia perturbadora sobretudo por sabermos que o é apenas por um muito precário equilíbrio de malabarista.
Não há bebés. Os nascimentos são raros e, entre os que acontecem, mais raros os de bebés vivos e saudáveis. Neste contexto, num estado da América do Norte (claro!), um grupo de radicais cristãos (também pouco surpreendente) decide impor uma leitura literal e descontextualizada da Bíblia e, subitamente, as mulheres, já com os seus conquistados direitos na sociedade, veem-nos revogados e são obrigadas a vergar-se ante uma nova hierarquia. É criado um sistema de "servas" (tradução portuguesa), mulheres que cometeram pecados no passado, mas que são comprovadamente férteis, que são entregues a famílias de poder, na sua maioria sem filhos, para que possam, com a benção e segundo os trâmites da nova ordem, gerar filhos para elas.
Esta realidade é-nos narrada por Offred, uma dessas servas, e, através dela e das suas memórias, vamos conhecendo o antes e o durante da sua nova vida.
«Women were not protected then.
I remember the rules, rules that were never spelled out but that every woman knew: don't open the doow to a stranger, even if he says he is the police. [...] Don't stop on the road to help a motorist pretending to be in trouble. [...] If anyone whistles, don't turn to look. Don't go into a laudromat, by yourself, at night.
I think about laudromats. [...] What I put into them: my own clothes, my own soap, my own money, money I had earned myself. I think about having such control.
Now we walk along the same street, in red pairs, and no man shouts obscenities at us, speaks to us, touches us. No one whistles.
There is more than one kind of freedom, said Aunt Lydia. Freedom to and freedom from. In the days of anarchy, it was freedom to. Now we are being given freedom from. Don't underrate it.»
{«As mulheres não eram protegidas, antes.
Lembro-me das regras, regras nunca ditas mas que qualquer mulher conhecia: não abras a porta a um estranho, mesmo que ele diga que é polícia. [...] Não pares na estrada para ajudar um motorista a fingir precisar de ajuda. [...] Se alguém assobiar, não te vires para olhar. Não entres numa lavandaria, sozinha, à noite.
Penso nas lavandaria. [...] No que colocava nelas: as minhas próprias roupas, o meu próprio sabão, o meu próprio dinheiro, dinheiro que eu mesma recebera. Penso no controlo que tinha.
Agora, caminhamos ao longo da mesma rua, em pares vermelhos, e nenhum homem nos grita obscenidades, fala connosco, nos toca. Ninguém assobia.
Existe mais do que um tipo de liberdade, dizia a Tia Lydia. Liberdade para e liberdade de. Nos dias de anarquia, tínhamos liberdade para. Agora, concedem-nos a liberdade de. Não a subestimem.» (Trad. livre)}
É um livro cativante, com uma narrativa de fácil leitura (li-o no original, em inglês), que nos faz querer saber mais e nos revolta constantemente. Admiro sempre a capacidade de criar novos mundos e realidades, sobretudo quando é de tal forma bem conseguido que é impossível não sentirmos que as estamos a viver também.
«You can't make an omelette without breaking eggs [...] We thought we could do better.
Better? I say in a small voice. How can he think this is better?
Better never means better for everyone, he says. It always means worse for some»
[«Não podes fazer omeletes sem partir ovos. [...] Pensámos que podíamos fazer melhor.
Melhor? digo numa voz sumida. Como pode ele pensar que isto é melhor?
Melhor nunca significa melhor para todos, diz ele. Implica sempre pior para alguns.» (Trad. livre)]
Ao chegar ao fim, sabe a pouco - por isso ainda bem que fizeram uma série! E já tenho a sequela - The Testaments - à minha espera na estante!
***
Quero ler este livro!
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