Lições, Ian McEwan (Gradiva)
Não resisti a ler este romance de Ian McEwan, Lições, que me
foi emprestado e recomendado, interrompendo assim, pela segunda vez
em pouco tempo, a minha decisão de ler os livros que se encontram
desordenadamente acumulados (e empoeirados) no meu quarto, para então
os poder arrumar. Trata-se da última obra deste autor, editada em
Portugal em setembro do corrente ano. Um livro grande e pesado - 650
páginas - o que não me impediu de o levar diariamente para o ler no
comboio.
Já li vários romances deste autor, e oscilo na apreciação que
faço, embora esta seja, na maior parte dos casos, positiva. Também
é positiva a apreciação que faço deste último, Lições, embora
me pareça que fica aquém de romances anteriores, como A
Balada de Adam Henry, Expiação ou Amesterdão. Senti,
sobretudo, que faltava uma questão central na qual o protagonista,
Roland Baines, iria encontrar justificação para a sua vida. Porque
Lições é, essencialmente, a história de uma vida.
Seja pela idade, pelo facto de ser também inglês, seja pelo facto
de o livro ser dedicado aos irmãos, não consegui deixar de associar
Roland Baines a Ian McEwan, e pensar que alguns dos eventos relatados
são reais. Tal como na vida real, a vida de Roland é complexa e
cheia de questões e problemas, mas há uma procura da razão pela
qual a sua vida é, face os parâmetros habituais, falhada, dado que
não conclui os estudos, toca piano num hotel, apesar de em jovem lhe
ser reconhecido um grande talento, não tem emprego fixo, nem sequer
um rendimento razoável. Mas nenhum dos factos que podem estar na
origem deste falhanço são concluídos ou resolvidos de forma
satisfatória, parecendo que há perante eles uma aceitação ou
resignação, como se fosse soltando o ar de um balão evitando dessa
forma que ele rebente. Mesmo a questão da relação com a professora
– que justifica o título - é tratada de forma ligeira, como se as
suas consequências não o tivessem marcado, nem persistido ao longo
de anos. Talvez o facto de ele envelhecer acompanhado pelos filhos e
netos, em contraste com a professora e a sua ex-mulher, justifiquem a
sua vida.
«Ao examinar de perto os seus erros, eles dissolviam-se em dúvidas,
hipóteses, às vezes até em ganhos sólidos. Em relação a este
último aspeto, podia estar a iludir-se. Mas, ao observar uma vida,
não era aconselhável admitir demasiadas derrotas. […] Então, a
sua vida era uma sucessão ininterrupta de decisões corretas? Claro
que não.» (pg. 590)
Lições é a história de Roland Baines e também de uma geração,
embora circunscrita ao hemisfério norte. Não me recordo de nenhuma
menção a um país, conflito ou líder do hemisfério sul, apesar de
abordar questões que são planetárias, como a recente pandemia ou o
problema do aquecimento global (e, em meu entender, com perspetiva preconceituosa em vários domínios, como quando refere que «O novo Governo queria que a nação bebesse como os europeus do sul»). Senti, também, que é feito um
esforço um pouco forçado para abordar todas as questões do nosso tempo, ainda que de forma passageira, num registo
quase diarístico. Talvez Lições sejam os 40 diários que Roland
escreveu e queimou durante a pandemia.
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