Manual de infidelidade, José Gameiro (Avenida da Liberdade Editores)

 

    Exerci advocacia durante um período muito curto. O suficiente para perceber que não era isso que queria fazer. Era então uma profissão diferente da atual, em que os advogados eram uma espécie de médicos de clínica geral: recebiam quem lhes batia à porta e passavam rapidamente de questões laborais, a questões sucessórias ou de família. Os divórcios eram ainda matéria obrigatória de tribunais e de advogados e por isso, mesmo tendo exercido por pouco tempo, contactei com alguns casos de divórcio.

    As reuniões, as conversas - melhor dizendo, as discussões - com os ainda cônjuges, deixavam-me sempre um travo amargo na boca. Mas apesar da curta experiência também me apercebi ou aprendi que, como refere o Autor, ao contrário do que se possa pensar, a infidelidade não é o principal motivo de divórcio. E também que é falso que se um casal estiver bem, nada acontece. No Manual de infidelidade, José Gameiro fala nas causas, no percurso da infidelidade e na sua descoberta e no que designa «caminho de sofrimento de que pode nascer um casal com padrões relacionais diferentes.»

    Confesso que houve um certo voyeurismo na leitura deste livro, sobretudo nas histórias que nos conta e que queremos saber como aconteceram e sobretudo como continuaram ou não, mas também há o conhecimento de quem lida há muito com estas questões. Uma das coisas que retive foi a inutilidade da maior parte das discussões conjugais, porque ninguém muda de opinião.

    A terceira pessoa, o outro ou a outra, é mencionada apenas lateralmente, mas admito que possa ser o vértice mais interessante da questão, sobretudo em situações que se arrastam durante anos, sacrificando a possibilidade de constituir uma família e de viver uma vida de casal.  Pode ser a continuação deste manual ou será que as terceiras pessoas não procuram terapia?