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Não saí da minha noite, Annie Ernaux (Livros do Brasil)

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    Durante anos procurei livros sobre a velhice (e a demência) e a morte da mãe e confrontei-me com o seu reduzido número, ao contrário dos livros sobre a morte do pai. Li agora dois, excecionais, publicados recentemente sobre este tema: Misericórdia , de Lídia Jorge, e Não saí da minha noite. Ambos escritos por mulheres. Escritoras. Interrogo-me se os escritores, homens, escreverão mais sobre a morte do pai e as escritoras sobre a morte da mãe. Ultrapassando questões de afetos e ligações, tratar-se-á de uma questão de identificação? Numa entrevista – que li algures – sobre este livro (que me recuso a catalogar porque não consigo fazê-lo, nem me parece que importe), Annie Ernaux refere que tem consciência de que «a sua mãe representa “o tempo” e que de alguma maneira ela a “empurra” a ela, a sua filha, para a “morte”».      Surpreendeu-me a questão da noite, presente neste livro e em Misericórdia:      «Aqui onde me encontr...

Uma Paixão Simples, Annie Ernaux (Livros do Brasil)

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    De Annie Ernaux, li recentemente Os Anos de que gostei muito. Quando falava no livro ou na Autora apercebia-me que muitas pessoas a conheciam por este romance, Uma Paixão Simples, editado quase vinte anos antes e que foi reeditado no ano passado, provavelmente devido à sua adaptação ao cinema por Danielle Arbid.     Começo pelo título, pelo acrescento do adjetivo simples à palavra paixão, quando uma paixão nunca é - nunca pode ser - simples. A palavra paixão é definida em vários dicionários como um sentimento intenso, profundo, obsessivo, impulsivo ou desesperado. Nunca simples. Penso que com a escolha da palavra simples – tradução literal do título francês Passion simple – Annie Ernaux quis transmitir que se tratava de uma paixão apenas, com tudo o que uma paixão implica. Como ela – a narradora, que não conseguimos separar da Autora – escreve, quase a acabar:     « (…) Descobri do que podemos ser capazes, ou seja, de tudo. Desejos sublimes ou ...

Os Anos, Annie Ernaux (Livros do Brasil)

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   Os Livros do Brasil fazem parte da minha juventude. Foi com esta editora e coleção (Livros do Brasil - Dois mundos) que conheci e li alguns autores que continuam a ser os meus preferidos: John Steinbeck, Ernst Hemingway, Albert Camus, Pearl S. Buck, Franz Kafka, entre tantos outros. Gosto da quase imutabilidade das capas e do destaque dado ao autor em detrimento do título.     Neste caso, não conhecia a autora, Annie Ernaux, mas o livro foi-me emprestado por uma amiga que já me tinha falado dele durante as caminhadas que, por vezes, fazemos ao final do dia. Seria incapaz de catalogá-lo ou rotulá-lo naquelas categorias precisas com que críticos e estudiosos arrumam os livros. A autora fala numa autobiografia impessoal (pg. 194), porque “ O importante, para ela, é a possibilidade de captar a duração que constitui a sua passagem pela Terra numa determinada época. Esse tempo que a atravessou, esse mundo que ela registou apenas por viver.”     Apesar d...