Uma Paixão Simples, Annie Ernaux (Livros do Brasil)

Annie Ernaux

    De Annie Ernaux, li recentemente Os Anos de que gostei muito. Quando falava no livro ou na Autora apercebia-me que muitas pessoas a conheciam por este romance, Uma Paixão Simples, editado quase vinte anos antes e que foi reeditado no ano passado, provavelmente devido à sua adaptação ao cinema por Danielle Arbid.
   Começo pelo título, pelo acrescento do adjetivo simples à palavra paixão, quando uma paixão nunca é - nunca pode ser - simples. A palavra paixão é definida em vários dicionários como um sentimento intenso, profundo, obsessivo, impulsivo ou desesperado. Nunca simples. Penso que com a escolha da palavra simples – tradução literal do título francês Passion simple – Annie Ernaux quis transmitir que se tratava de uma paixão apenas, com tudo o que uma paixão implica. Como ela – a narradora, que não conseguimos separar da Autora – escreve, quase a acabar:

    «(…) Descobri do que podemos ser capazes, ou seja, de tudo. Desejos sublimes ou mortais, ausência de dignidade, crenças e comportamentos que achava insensatos nos outros porque nunca me tinha acontecido recorrer a eles. Sem querer, ele ligou-me mais ao mundo.»

    Como se pode ler na contracapa do livro, de um lado, uma mulher culta, independente, divorciada e já com filhos adultos. Do outro, um homem casado, estrangeiro, mais jovem, por quem ela perde completamente a cabeça. E por quem espera, dia após dia:

    «(…) A partir do mês de setembro do ano passado, não fiz mais nada a não ser esperar um homem: esperar que ele me telefonasse e que viesse a minha casa.»

    Não só espera, como o imagina a todo o tempo e desespera por pensar que ele podia passar um dia inteiro sem pensar nela. «(…) Essa descoincidência com a minha própria obsessão surpreendia-me bastante. Como é que isso era possível?»

    Só quem nunca tenha vivido ou sentido uma paixão assim, simples na sua quase loucura, não poderá compreender a história que nos é narrada n’ Uma Paixão Simples. Ao acabar, reconhece que viver uma paixão é um luxo, e que através dele, da paixão que viveu, ficou mais ligada ao mundo.
    De alguma forma, o diário da nossa paixão. De quem já viveu - ou vive - uma paixão.

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