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Um Cão no Meio do Caminho, Isabela Figueiredo (Caminho)

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   De Isabela Figueiredo li os dois livros anteriores, Caderno de Memórias Coloniais e a Gorda que apreciei muitíssimo. Surpreendeu-me o à vontade com que em ambos Isabela Figueiredo se expõe, porque é impossível não entender as protagonistas como alter egos da Autora. Li-os também como crónicas de época, até porque ao longo da leitura encontramos marcos que nos permitem ligar a períodos da nossa história coletiva e da nossa vida privada. Com uma escrita escorreita, rápida, que nos leva a acelerar a leitura.     Um Cão no Meio do Caminho prende-nos logo nas primeiras páginas: um homem e uma mulher, vizinhos, solitários, contam a vida um ao outro, sobretudo o que os conduziu à solidão, e nesse processo criam laços que vão terminar por os ligar. Contudo, ao contrário dos outros romances, não me identifiquei com as personagens, nem com as histórias de ambos que, confesso, me pareceram pouco consistentes. Há até algumas incoerências, como quando Beatriz, a vizinha, con...

Caderno de Memórias Coloniais, Isabela Figueiredo (Caminho)

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  O Caderno de Memórias Coloniais foi editado em 2009. Esta é a 8.ª edição (maio de 2018), o que é indiciador do interesse que suscitou. Ao lê-lo, senti o mesmo que tinha sentido quando li A Gorda,   a surpresa perante o desassombro com que a Autora fala dela própria, do corpo, dos seus desejos e sentimentos, num registo assumidamente autobiográfico. E da forma pouco habitual como fala do pai, da sexualidade paterna ( Ele sentia prazer em viver e gostava de comer, beber e foder. ..), bem como da sexualidade dos adultos, em especial das mulheres:     « Uma branca não admitia que gostasse de foder, mesmo que gostasse. E não admitir era uma garantia de seriedade para o marido, para a imaculada sociedade toda. As negras fodiam, essas sim, com todos e mais alguns, com os negros e os maridos das brancas, por gorjeta, certamente, por comida ou por medo. E algumas talvez gostassem, e guinchassem, porque as negras eram animais e podiam guinchar. Mas, sobretudo, porque as negr...

A Gorda, Isabela Figueiredo (Caminho)

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         Quando comecei a ler este livro, A Gorda, tive a sensação que temos quando abrimos uma revista já com alguns anos, ou um álbum de fotografias de um amigo e descobrimos imagens que reconhecemos de quando éramos crianças ou jovens. A identificação que nos leva a dizer que tivemos uma camisola exatamente igual à da imagem ou um corte de cabelo parecido. Ou que também estivemos ali, naquele lugar que é agora o cenário de uma fotografia amarelecida. E essa identificação é parte do interesse que a leitura desta história suscita, reforçado ainda pela indicação dos lugares, das terras em que Maria Luísa, a protagonista, vive, estuda e, mais tarde, trabalha ou passa férias, o que me parece cada vez menos comum nos livros publicados entre nós.     Também me pareceu curiosa a estrutura, baseada nas divisões da casa (Porta de entrada, Quarto de solteira, Sala de estar, Quarto dos papás, Cozinha, Sala de jantar, Casa de banho e Hall) ...