A Relíquia, Eça de Queirós (BI - Biblioteca editores Independentes)
Contrariamente ao que disse na entrada anterior a esta, li este livro pequenino quase paralelamente ao de Maria de Belém. É o quarto livro de Eça de Queirós que leio, juntando-se aos
clássicos “Os Maias” e “O Crime do Padre Amaro”, bem como a “O Mistério da
Estrada de Sintra”, que escreveu juntamente com Ramalho Ortigão (todos estes
livros foram lidos antes da existência deste blogue, daí que não tenha criado
links para eles).
Devo dizer que devorei os primeiros três livros. Gosto muito
de Eça.
Com “A Relíquia” foi um pouco diferente.
Teodorico perde os pais, primeiro a mãe, no parto, e mais
tarde o pai, quando ainda muito novo, sendo acolhido pela tia (a “titi”),
senhora muito devota, para quem qualquer comportamento que não fosse a adoração
ininterrupta do Senhor era considerado pecado. O menino cresce, então, temendo
a Deus e ainda mais à titi (É necessário gostar muito da titi… É necessário
dizer sempre que sim à titi!). Quando vai estudar para Coimbra, passa a gozar
duma maior liberdade, desforrando-se de todos os anos de submissão mas
mostrando-se cada vez mais pio na presença da tia, que nem sonha a vida de
pecado que o sobrinho vive nas suas costas. Quando Teodorico descobre que a tia
pretende deixar todo o seu património espalhado por gentes e instituições da
Igreja, procura convencê-la que é o mais puro e mais temente a Deus que ela
alguma vez encontrará, a fim de conseguir ficar com a herança. Acede, assim, a
ir a Jerusalém em lugar dela, para rezar pela tia e beijar devotamente tudo em
que Cristo poderia ter tocado. E, o que é mais, fica incumbido de trazer uma
relíquia muito especial para a titi, algo de valor inigualável e que, de tão
puro, pudesse curar todas as maleitas da senhora (que é o que Teodorico menos
deseja que aconteça).
Que lhe podia eu
oferecer mais sagrado, mais enternecedor mais eficaz que um ramo da árvore de
espinhos, colhido no vale do Jordão, uma clara, rosada manhã de missa?
Mas de repente assaltou-me uma áspera
inquietação… E se realmente uma virtude transcendente circulasse nas fibras
daquele troco? E se a titi começasse a melhorar do fígado, a reverdecer, mal eu
instalasse no seu oratório, entre lumes e flores, um desse galhos eriçados de
espinhos? Ó misérrimo logro! Era eu pois que lhe levava nesciamente o princípio
milagroso da saúde, e a tornava rija, indestrutível, ininterrável, com os
contos de G. Godinho firmes na mão avara! Eu! Eu que só começaria a viver –
quando ela começasse a morrer!
A escrita é maravilhosa, claro. E tanto a primeira como a
terceira partes do livro foram lidas com sofreguidão e muitas gargalhadas – por
vezes à custa de sobrolhos alheios erguidos no comboio ou no metro. A segunda
parte, no entanto, a viagem a Jerusalém, foi para mim um pouco entediante;
creio que, parcialmente, por uma falta de conhecimentos bíblicos da minha
parte, o que tornou uma série de referências absolutamente desconhecidas e me
fez sentir perdida na história.
***
gosto muito deste livro
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