A menina de S. Juan, João Menino Vargas (Astrolábio)

    Há histórias que nalgumas famílias passam de geração em geração. Algumas são histórias felizes ou engraçadas, outras são tristes ou mesmo dramáticas.  A história que deu origem a este livro é uma dessas histórias. Uma história dramática, que se passou com o meu avô materno, e que o terá assombrado durante o resto da vida.
    Durante a guerra civil de Espanha o meu avô estava encarregado de vigiar (garantir a segurança?) a fronteira na zona de Portalegre. Um dia salva uma criança, perseguida pelos falangistas. Aparentemente ia levar comida ao pai, que estava escondido. O meu avô chega a bater-se contra aqueles que o perseguiam e depois de trazer a criança para o lado português da fronteira, leva-o a casa, onde a minha avó lhe dá comida e roupa. Mais tarde condu-lo ao posto da GNR, porque eram as instruções que tinha e porque pensava que a criança seria entregue, mas garantida a sua proteção. Soube no dia seguinte que tinha sido levada à fronteira e imediatamente morta. Talvez este tenha sido o princípio da descrença no regime português que o levaria, muitos anos depois, bastante doente, a ler diariamente as capas dos jornais expostos num quiosque perto de casa e a responder sistematicamente que não comprava nenhum, porque a notícia pela qual esperava sairia na capa. E tanto tempo esperou por essa notícia que quando saiu emoldurou as capas dos jornais. Ainda me lembro da moldura colocada na sala com a capa d’ A República e do Diário de Lisboa, entre os quadros pintados pelo meu bisavô e as várias fotografias de família.
    Há alguns anos, o meu pai tinha escrito esta história (juntamente com outras recordações que o meu avô contava) e depois foi-a reescrevendo, tentando diferentes abordagens. Até que desistiu. Recentemente resolveu voltar a pegar-lhe, preocupado com o crescimento da extrema-direita, com a benevolência com que muitas vezes é visto Salazar e a dita neutralidade perante a guerra civil de Espanha.
    Da minha parte não posso deixar de admirar ambos, o meu avô e o meu pai. Este último por depois dos 80 anos se dedicar à escrita. Em 2019, publicou Todos ou nenhum que foi traduzido para francês e  foi levado à cena, em Lisboa, pelo IFICT, e depois em Toulouse, pelos alunos do curso de teatro.


***

Quero ler este livro!

Comentários

  1. Claro, que ao louvor dou o devido desconto e tenho de copnfessar que andei em frente porque ela me oincentivou e deu todo o apoio.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Os mais lidos

O Sétimo Juramento, Paulina Chiziane (Sociedade Editorial Ndjira)

Niketche, Paulina Chiziane (Caminho)

Os Bem-Aventurados, Luísa Beltrão (Editorial Presença)