O Amigo Comum, Charles Dickens (Relógio D' Água)

Passagens do livro O Amigo Comum, de Charles Dickens, traduzido por Maria de Lourdes Guimarães, editado pela Relógio d'Água       Depois de ter começado há cerca de duas semanas a leitura de O Amigo Comum, invoco o meu direito de não acabar um livro e vou parar de o ler. 
    Admito que um dia volte a pegar nele, até porque reconheço a qualidade da escrita que, confesso, me surpreendeu. Durante a minha juventude li alguns livros de Charles Dickens, embora não saiba dizer se eram versões adaptadas ou não. Apesar da minha decisão de parar de o ler, li os primeiros capítulos com imensa curiosidade e interesse. O Amigo Comum, o último romance de Charles Dickens, começa assim:
   «Nos nossos dias, não interessa o ano, ao cair de uma tarde de Outono, um bote sujo e com mau aspeto flutuava no rio Tamisa entre a Ponte de Southwark, que é de ferro, e a Ponte de Londres, que é de pedra.»
    Mas se o início é cativante, abundam ao longo do livro descrições de pessoas, cenas ou cenários que surpreendem, divertem ou deslumbram, parecendo por vezes uma obra contemporânea:
    «(...) o negócio de ações é a única coisa com a qual se negoceia. Não se tenha nem antecedentes, nem reputação, nem cultura, nem ideias, nem educação, mas que se tenham ações. Tenham-se bastantes ações para estar no Conselho de Administração com letras maiúsculas, para que se mova em negócios misteriosos entre Londres e Paris e seja um grande homem. De onde vem ele? Ações. Para onde vai? Ações. De que gosta? Ações. Tem princípios? Ações. O que o levou a ir para o Parlamento? Ações. Talvez, por si mesmo, nunca tenha sido bem sucedido, nunca tenha inventado seja o que for, nunca tenha produzido qualquer coisa? Resposta suficiente para tudo: Ações.»
    Ou então a crítica aos novos ricos: 
   «O senhor e a senhora Veneering eram habitantes novinhos em folha numa casa novinha em folha num bairro de Londres novinho em folha. Tudo à volta dos Veneerings era reluzente e novo.
    (...)
    Num jantar que ofereceram estiveram presentes um Deputado, um Engenheiro, um Funcionário das Finanças, um Poema sobre Shakespeare, uma Injustiça e um Funcionário Público. Nenhum parecia conhecer os Veneerings.»
    Depois destes excertos, parecerá absurda a minha decisão de parar de ler o livro, mas o número de personagens, a sucessão de capítulos em que deixamos de seguir uma história para passarmos a outra, sem ligação aparente, cria um puzzle que é difícil encaixar e acompanhar. Por isso admito que noutra altura, porventura em férias, possa voltar ou continuar a lê-lo.
     Reparei depois que no Desafio 100 livros lançado pela BBC estão 6 livros do Charles Dickens, Grandes Esperanças, Bleak House (Casa Sombria), David Copperfield, História de Duas Cidades, Oliver Twist, e Um Conto de Natal. Acho que é o único autor com este número de livros.
    Uma palavra final para a tradução, de Maria de Lourdes Guimarães, que me pareceu perfeita  sendo ainda por cima uma escrita muito difícil de traduzir.


***

Comentários

  1. Quando largamos um livro a "meio", por fastidioso, dificilmente voltaremos a ele.

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