Um Artista do Mundo Flutuante, Kazuo Ishiguro (Gradiva)

Imagem da capa do livro de Kazuo Ishiguro, Um Artista do Mundo Flutuante, pela Gradiva, em recensão no blogue Clube de Leituras
    Este livro deixou-me absolutamente dividida - o que justifica, em parte, o tempo entre o fim da sua leitura e a minha recensão da mesma neste blogue.
   Recorrendo à fórmula a que já nos habituou e de que, pessoalmente, gosto bastante, a história, narrada na primeira pessoa, é como que um discorrer de memórias dentro de memórias. Em qualquer dos seus romances já lidos - Nunca Me Deixes, The Remains of the Day (Os Despojos do Dia) e O Gigante Enterrado - encontramos esta forma de escrever, mas diria que este é aquele que mais se aproxima do primeiro, que é, sem dúvida, para mim, o seu melhor romance e o que me fez ler todos os seguintes (que não lhe chegaram aos «calcanhares»).
    Se me perguntarem se gostei do livro, direi que sim. Se me perguntarem do que trata, responderei que me parece ser a análise de uma vida e de como as nossas ações podem vir a ter influências imprevisíveis no futuro. Mas também pode não ser exatamente isso...
 Narrado na primeira pessoa, somos, como leitores, apresentados ao Japão pós-Segunda Guerra, pelas palavras de Masuji Ono, um pintor reformado e, pelo que nos dá a entender, bastante conhecido pelas suas obras.

    «Quando se passa em revista os feitos de uma vida, existe sem dúvida algum consolo - e até uma profunda satisfação - na consciência de se ter falhado em qualquer coisa que mais ninguém teve a coragem ou a determinação de tentar.»

   Masuji dirige-se frequentamente ao leitor de forma direta, fazendo algumas interpretações de olhares, conversas ou comentários que ficou de alguma forma a remoer, dando-nos a entender que poderá ter tido alguns comportamentos ou defendido alguns ideais no seu passado que, à luz dos novos valores, poderiam ser francamente mal interpretados.

   «a meu ver, um homem que se respeite a si mesmo não tem alternativa senão admitir a sua responsabilidade pelos actos que cometeu; não é uma tarefa fácil, claro está, mas há realmente uma certa satisfação, uma certa dignidade, em assumir erros do passado. Em todo o caso, não há vergonha nos erros cometidos de boa-fé. Mais vergonhoso é, sem dúvida, não querer ou não poder reconhecê-los.»

    E porém… há sempre uma parte de nós que fica na dúvida quanto à relevância que Ono atribui a estes momentos, não compreendendo inteiramente se se trata verdadeiramente de um tema, ou se decorre apenas de mal-entendidos por parte do narrador.

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