O Livro dos Baltimore, Joel Dicker (Alfaguara)

    Uma amiga que viveu alguns anos em Bruxelas, trouxe-me vários livros de autores franceses ou traduzidos para francês para ir treinando a leitura. Entre os livros estava este de Joel Dicker, que conheço através da série A Verdade sobre o caso Harry Quebert. Depois de ter visto os 10 episódios, obsessivamente, não fiquei com vontade de ler o livro, porque o elemento chave é o suspense, pelo que a leitura posterior perde interesse. O livro, editado entre nós pela Alfaguara, ganhou o Grande Prémio do Romance da Academia Francesa de 2012 e o Prémio Goncourt des Lycéens do mesmo ano. 

    Quando li o prólogo d' O Livro dos Baltimore fiquei logo enredada na leitura. Como li nalgumas críticas, é um page turner. Confesso que odeio esta mania de utilizar expressões inglesas, tão frequente sobretudo entre os jovens, mas neste caso, em particular, não consigo encontrar uma tradução adequada. Dizer que é um romance envolvente pode significar muito mais do que ser um page turner, que significa que é um livro cuja leitura é difícil interromper, porque temos curiosidade de saber o que vem a seguir ou como acaba. E é isto que O Livro dos Baltimore é: queremos perceber o que é o Drama de que nos fala logo nas primeiras páginas e o que aconteceu às diferentes personagens. E o autor, Joel Dicker, é magistral a criar o suspense, a interromper a história que está a contar ou a deixar pistas. 

    Marcus Goldman, que é também escritor e a figura central de A verdade sobre o caso Harry Quebert, instala-se em Boca Raton, na Florida, para escrever um livro, embora ainda não saiba sobre o que vai escrever. Como diz a um vizinho, mais velho, que também está a escrever um livro, "não é preciso procurar a ideia. A ideia vem até nós. A ideia é um acontecimento que pode se produzir a todo o tempo." E assim acontece. Decide escrever para reencontrar o seu tio Saul, bem como a sua mulher, a Tia Anita, e os primos, Hillel e Woody, os Goldman de Baltimore. 

    O Livro dos Baltimore está dividido em cinco livros - Da juventude perdida (1989-1997); da fraternidade perdida (1998-2001); dos Goldman (1960-1989); do Drama (2002-2004); e da reparação (2004-2012), precedidos de um prólogo - Domingo, 24 de outubro de 2004 -, e fecha com um epílogo, Quinta-feira, 22 de novembro de 2012. Mesmo dentro de cada livro viajamos entre o passado e o presente, mas só esporadicamente nos perdemos nestas viagens temporais.

    O facto de ser um page turner não o transforma num romance extraordinário, nem sequer bom.   Nalgumas situações, as personagens não parecem consistentes e parece-me que alguns factos não justificam as consequências. Mas as 600 páginas (nesta edição de bolso) leem-se bem e rapidamente.

    Não resisto a transcrever logo no capítulo 1. o que diz sobre escrever um livro:

    "Escrever um livro é como abrir uma colónia de férias. A vida, habitualmente solitária e tranquila, é de repente interpelada por uma multidão de personagens que chega um dia, sem avisar, e veem chatear a sua vida. Chegam de manhã, a bordo de um enorme autocarro do qual descem ruidosamente, muito excitados com o papel que obtiveram. E tem de os ocupar, de os alimentar, de os alojar. É responsável por tudo. Porque é o escritor."

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