Cartas de Amor da Sóror Mariana ao Cavalheiro de Chamilly
Li Cartas de Amor da Sóror Mariana ao Cavalheiro de Chamilly há muitos anos, com o título As Cartas Portuguesas. Delas guardava o nome da sua autora, Mariana Alcoforado, e a reminiscência do tom, primeiro amoroso e depois nostálgico das cartas. Não quero saber das teses segundo as quais as cartas não seriam de uma jovem freira, mas de um diplomata francês.
Gosto de imaginar Mariana, escrevendo as cartas, passando para o papel o drama vivido por muitas outras jovens mulheres, mantidas contra vontade em conventos. Apaixonando-se perdidamente por homens que depois as abandonavam.
Encontrei esta edição de
1925, com quase um século, ilustrada e com um prefácio de Mattos
Sequeira que depois de mencionar o género epistolar, escreve:
«Em meio desta
produtividade epistolar sem elevação nem beleza, apenas
documentalmente útil para o estudo da sociedade em que se gerou, as
cinco cartas, os cinco poemas da freira de Beja, são como estrelas
resplandendo e irradiando a própria luz interior entre chamas de
candeias, vivendo do óleo gorduroso de uma baixa sensibilidade. As
cartas de Mariana Alcoforado constituem no nosso património
literário um monumento de excecional relevo e de soberana
formosura.»
Quando li As Cartas Portuguesas
pela primeira vez, li-as antes de ler As Novas Cartas Portuguesas.
Agora decidi lê-las em conjunto.
São cinco cartas. A primeira é
uma carta cheia de esperança, em que pede ao Cavalheiro de Chamilly
que lhe escreva muitas vezes e, sobretudo, que a venha ver.
Pergunta-lhe se se poderia contentar com uma paixão menos ardente do
que a dela.
A segunda carta é muito mais
longa e vai oscilando entre as recriminações e a total devoção e
submissão: «Momentos há em que me parece que me resignaria até
a servir submissamente a que amas.» Mas, a acabar, reconhece que
escreve mais para ela própria do que para ele e que busca apenas
aliviar o coração.
As terceira e quarta cartas são
mais curtas, mais desesperadas, mas mais conscientes que o não
voltaria a ver, despedindo-se dele repetidamente. A quinta carta é a
da despedida:
«Escrevo-lhe pela última
vez e espero fazer-lhe perceber na differença dos termos e na
maneira d'esta carta, que logrou convencer-me, finalmente, de que não
me amava já, e que assim, também, devo deixar de o amar.»
Mas em todas as cartas, há momentos muito bonitos, sentimentos e fragilidades tão bem descritos que todos neles nos reconhecemos, como quando escreve na segunda carta «Ai, porque tratas com tanto rigor um coração que é teu?»
Espero que daqui a 100 anos as Cartas de Amor
da Soror Mariana ao Cavalheiro de Chamilly continuem a ser lidas.
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