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O pintor debaixo do lava-loiças, Afonso Cruz (Caminho)

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    Existiu mesmo um pintor debaixo do lava-loiças, na casa dos avós do escritor e foi esse o ponto de partida para esta história ficcionada e deslumbrante. Quando comecei a ler, veio-me à ideia Gonçalo M. Tavares, pela escolha da localização da história, mas à medida que fui lendo, tornou-se incontornável a associação ao Principezinho de Saint-Exupery. É-lhe aliás feita referência no título Em 1940 um aviador que pousou em Lisboa haveria de escrever: o essencial não se vê e, de alguma maneira, a descrição que faz da cidade quando o protagonista chega a Lisboa é coincidente com a constante de textos deste autor.    Ao contrário do principezinho, o protagonista desta história está atado à terra e vive os momentos dramáticos da 1ª Guerra Mundial nas tricheiras e o início da 2ª Guerra Mundial, passando por Bratislava, EUA e Portugal.    As personagens, descritas com traços largos, prendem-nos à leitura: a deslumbrante Frantiska, que enuncia regras que mudam todos os dias, o coronel c

Teresa Desqueyroux, François Mauriac (Estúdios Cor)

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   Já tinha lido este livro há muitos anos, nesta edição de 1958 trazida de casa dos meus avós. Lembrava-me vagamente da história: Teresa (o primeiro nome aparece traduzido) regressa a casa depois de ter sido ilibada da tentativa de matar o marido. Foi o testemunho do marido, mais desesperado por recuperar a sua dignidade e não afetar o bom nome da família, que a ilibou do crime que ambos sabem que cometeu.    Mesmo sabendo a história, não deixamos de nos impressionar pela total indiferença e frieza de Teresa por todos, especialmente pela sua pequena filha, de quem o marido a separa após a sua libertação. Compreendemos o desencato de Teresa pelo marido, boçal e materialista, mas não percebemos o que ambiciona, o que deseja, quais são os seus sonhos, com exceção de viver na cidade e ser adulada e admirada.    Mas foi este retrato impiedoso que François Mauriac quis transmitir: Muitos se admirarão de que eu tenha podido imaginar uma criatura ainda mais odiosa que todos os meus outros

Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia, J. Rentes de Carvalho (Quetzal)

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   Andava cheia de vontade de ler um livro deste autor cujo nome entrevi pela primeira vez espreitando a capa do livro que um passageiro do comboio lia, alheado de tudo o resto. Depois li várias referências à sua vida e obra o que aumentou a curiosidade e quando encontrei este livro numa livraria, confesso que não resisti ao  titulo "Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia".    É um livro que reúne um conjunto de contos. E já agora, quando é que os nossos editores começam a incluir a indicação que se trata de um livro de contos, seja na capa, na contracapa ou nas badanas dos livros?    Tenho de confessar que tenho alguma ambiguidade quanto aos livros de contos, por um lado é bom no dia a dia termos pequenos contos para ler, mas por outro lado, há sempre algum desapontamento quando ao fim de algumas páginas somos obrigados a abandonar precocemente as suas personagens.     O facto de desconhecer que se tratava de um livro de contos levou-me a ler os dois primeiros - Um amo

Valter Hugo Mãe

Valter Hugo Mãe é o vencedor da 10ª edição do Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa. O escritor recebeu ontem, dia 26 de novembro, em S.Paulo, Brasil, o prémio na categoria de melhor romance com A Máquina de Fazer Espanhóis e também foi vencedor do Grande Prémio Portugal Telecom 2012.

Afonso Cruz

   O Almada Negreiros tinha razão. Nem preciso de entrar numa livraria, nem de contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida: Não chegam, não duro nem para metade da livraria.     Primeiro foram as listas dos 25 livros de autores portugueses da revista Ler (de outubro?) e eu a pensar que tenho/quero lê-los. Depois foi o jovem João Tordo e o menos jovem, Rentes de Carvalho, que me foram apresentados por vários leitores anónimos nos comboios da linha.  E na sexta-feira, soube pelo Bruno Pinheiro que um escritor português - Afonso Cruz - tinha ganho o prémio da União Europeia. Também não o conhecia, mas ele lê um texto e gostei muito.    Aqui vai o link para o filme que o Bruno colocou no You Tube. Vejam, oiçam e depois leiam. Eu vou fazê-lo:     Video

Os Manuscritos de Aspern, Henry James (Sistema Solar)

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        Conheci a história deste livro através da newsletter das edições Sistema Solar que o Luís Guerra com regularidade me envia. Depois foi a vez de a ler no Público, acentuando a minha vontade de ler o livro.     Foi o Diogo que o encontrou à venda na Livraria Palavra do Viajante e teve a simpatia de mo trazer.    A história narrada no livro é portanto conhecida à partida. É aliás, referida na apresentação que o tradutor, Aníbal Fernandes, faz do livro e do autor. Segundo este, Henry James ouviu a história durante a sua estadia em Florença: duas mulheres de idade avançada (uma com mas de oitenta anos e outra, a sua sobrinha, com cerca de cinquenta anos)vivem juntas, solteiras e têm na posse manuscritos de Shelley e de Byron. Um indivíduo quer desesperadamente ficar com os manuscritos e para tal consegue instalar-se na casa destas senhoras, aproximar-se delas, na expetativa que a mais velha morra e lhes consiga deitar a mão. Quando a velha senhora morre e ele manifesta a

Mel, Ian McEwan (Gradiva)

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    Mais um livro de Ian McEwan que, mais uma vez, me foi emprestado e recomendado pela Nélia.     De novo nos surpreendemos pela versatilidade deste autor. Muitos escritores escrevem obsessivamente sobre o mesmo tema ou as tramas percorrem as mesmas épocas, as mesmas ruas ou as mesmas personagens. Com Ian McEwan isso não acontece. Cada livro é um mergulho numa época, numa atmosfera, num enredo completamente distinto. No caso de Mel, e embora nem o nome do livro, nem a capa nos deixassem suspeitar, trata-se de um livro sobre espionagem, em pleno período da guerra fria, que se desenrola numa Inglaterra a viver uma crise política e económica.     O livro é,  assumidamente, uma homenagem a Ian Fleming que Ian McEwan expressamente menciona nas últimas páginas.     É também um livro que funciona como um jogo de espelhos que vamos decifrando à medida que ação se desenvolve, sem contudo deixar de sentir que, tal como Serena, fomos enganados.     Serena, a protagonista, é uma jovem

GoodReads (http://www.goodreads.com/)

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    Fui convidada a inscrever-me neste site/aplicação por um amigo meu, que me convidou pelo Facebook. Rapidamente fiquei viciada e instiguei a minha mãe a aceder também. Não é necessário ter conta no facebook para aderir, mas podemos associar as nossas contas (Facebook, Gmail, Yahoo...) ao nosso perfil no site.    É viciante. Após criarmos conta, pedem-nos que indiquemos os temas que preferimos e imediatamente são-nos sugeridos alguns livros de acordo com as nossas preferências; quantos mais livros classificarmos (ficam nas nossas "prateleiras") mais facilmente o site nos vai sugerindo livros que poderemos gostar.     Tal como numa rede social, podemos convidar amigos para o nosso circulo e vamos sabendo o que eles gostam, o que andam a ler e o que recomendam. Eles podem recomendar-nos um livro especificamente, ou nós podemos fazer o mesmo.     Para quem precisa de um pouco mais de estímulo, existe um local onde pode indicar quantos livros pretende ler num ano, desfia

Um Homem do Avesso, Fred Vargas (Pergaminho)

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    Confesso que foi o nome do autor que me atraiu, a partilha do apelido. Não foi a primeira vez que pensei comprar um livro de Fred Vargas, mas por uma ou outra razão, só agora o fiz, para descobrir que se trata de um pseudónimo ( o nome da coleção "Damas do Crime" devia ter-me chamado a atenção...) de uma conhecida arqueóloga (imagino-a de cabelos brancos e a inventar mortes horríveis enquanto bebe chá tranquilamente, com a família ou as amigas).     O ambiente em que se desenrola este romance policial é fora do habitual, os Alpes franceses, e os protagonistas são todos peculiares: Camille compõe músicas para filmes e telenovelas, trabalho que acumula com o de canalizadora. Para descontrair, lê catálogos de ferramentas profissionai; Soliman, preto, abandonado em bébé e adoptado por Suzanne (uma das primeiras vítimas) cruza a sua vivência francesa com os antepassados africanos, inventando histórias do início do mundo e recitando o significado das palavras, de acordo com

"Está tudo iluminado", Jonathan Safran Foer (Temas e Debates)

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    Um final de filme visto por acaso chegou para suscitar a minha curiosidade. O nome do autor na ficha técnica do filme avivou ainda mais a curiosidade, que a Nélia, de novo, esclareceu: era um filme baseado no primeiro livro do Jonathan Safran Foer " Está tudo iluminado ".     Um jovem americano decide viajar até à Ucrânia para procurar a mulher que salvou a vida do seu avô. Para o ajudar tem apenas uma fotografia e o que está escrito no verso. Para o auxiliar contrata uma empresa local, familiar, que envia para o acompanhar um jovem - Alexander Perchov - que servirá de tradutor e o seu avô, como motorista e guia. O avô é descrito como retardado, melancólico e cego. Embora o filho não acredite na cegueira arranjou-lhe uma cadela -Sammy Davis, Junior, Junior - , porque uma cadela Guia de Cegos não é só para pessoas cegas mas para pessoas que anseiam pelo negativo da solidão, que também os acompanhará.     Nessa viagem o passado e presente dos três viajantes ir-se-ão cruz

A Leitora Real, Alan Bennett (ASA)

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    A Leitora Real, embora um pequeno livro, é uma imensa declaração de amor aos livros e à leitura. Aos livros e à leitura pelo impacte subversivo que têm na vida das pessoas:" Ler é desordenado, discursivo e permanentemente atraente. Receber instruções encerra um assunto, ler revela-o".     O que aconteceria se a Rainha de Inglaterra, por um acaso (à procura dos seus cães e depois de atravessar a cozinha do Palácio Buckingham) encontrasse uma pequena biblioteca itinerante e um auxiliar de cozinha entretido na leitura de um livro?     E se depois de descobrir as delícias da leitura tivesse vontade de as divulgar, falando com as pessoas que a rodeiam, permanentemente ou circunstancialmente, sobre livros e escritores?     Se por um lado nos deliciamos com o crescente entusiasmo pela leitura e pelo impacte que vai tendo na vida da rainha e de quem a  rodeia, por outro é quase impressionante apercebermo-nos como pode ser intimidante falar de livros com quem não lê (seja

Escritos Secretos, Sebastian Barry (Bertrand)

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    Desde o momento em que comecei a ler este livro que só me apetecia apregoar o quão bem escrito está. Não é um livro para devorar; é um livro para saborear.    Tinha algumas reservas de início pois uma amiga minha já o tinha lido e descreveu-o como "muito estranho". Eu adorei-o e sem dúvida que o recomendo.     Roseanne McNulty, ou Roseanne Clear (nome de solteira) tem cerca de cem anos e encontra-se há mais de cinquenta num hospital psiquiátrico. O Dr. Grene, psiquiatra, é encarregue de avaliar os vários pacientes da instituição para determinar quais deles estão aptos para serem reintegrados na sociedade, contexto da iminente demolição do edifício que está praticamente em ruínas. Apenas os pacientes que, após avaliação, forem considerados inaptos serão transferidos para novas instalações.     Ainda que compreendendo, apenas pelo olhar, o quanto Roseanne sofreu ao longo da sua vida, antes de ser internada, o Dr. Grene nunca antes tentara apurar os motivos do seu i

O Circo dos Sonhos, Erin Morgenstern (Civilização)

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    Mais uma vez o livro chamou-me a atenção pelo título e pela capa. Presumi que fosse algum tipo de romance assim mais negro. E fiquei interessada.     Tenho de admitir que comecei por fica um pouco desiludida quando percebi que tinha o seu misticismo, pois estava à espera de um romance mais para o real.     De qualquer modo, rapidamente fiquei presa. É, sem dúvida, uma história original e está muito bem escrita. Além disso tem uma estética e uma organização diferentes, que também gostei muito.     No início do romance, dois homens (cuja relação não se entende) estabelecem um acordo para começarem um desafio entre duas crianças, cada uma treinada por um deles. Celia é filha de Prospero, um ilusionista (que, na verdade, tem mesmo alguns poderes) de renome, que nasceu já com certas aptidões. Marco é escolhido num orfanato pelo "homem de fato cinzento" e treinado de um modo totalmente distinto, mais académico.     Durante toda a sua juventude são treinado pelos seus

A Dança das Borboletas, Poppy Adams (Porto Editora)

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    Comprei o livro na Feira do Livro de Lisboa deste ano: tanto a capa como o título e chamaram a atenção. Como de costume, li a contracapa, o que aguçou o meu interesse - diz ser uma história entre duas irmão. Separadas durante cerca de quarenta anos, a história começa com Ginny (a irmã mais velha) a espreitar pela janela da mansão da família, aguardando a chegada de Vivien (Vivi).     «Narrada pela voz inesquecível de Ginny, este brilhante romance de estreia descreve-nos o que as famílias são capazes de fazer - especialmente em nome do amor».     O livro está bem escrito mas esta não é a sua essência. Rapidamente percebemos que a narradora sofre de algum tipo de perturbação, ainda que não consigamos imediatamente decifrar se é algo que nasceu com ela ou o resultado de tantos anos em isolamento.     Se nos momentos em que vamos conhecendo a história conturbada da família o romance acaba por nos absorver, grande parte do volume do livro consiste numa descrição exaustiva dos e

O teu rosto será o último, João Ricardo Pedro (LeYa)

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    " Sei por experiência, que quando um livro causa sensação convém esperar um ano antes de tomar conhecimento dele. É surpreendente a quantidade de livros que, ao cabo, nos dispensamos de ler ". Somerset Maugham     Esta frase, lida num livro de contos do Somerset, reforçou a minha convicção de que deveria deixar os livros envelhecer nas prateleiras das livrarias, desaparecer das críticas literárias, para então decidir se os leria ou não.     Mas a minha convicção esboroou-se rapidamente com a leitura das primeiras páginas de "O teu rosto será o último", como já antes vacilara face ao título e à capa, ambos lindíssimos.    Li-o quase obsessivamente, acompanhando o desfile de personagens que acompanham as duas gerações (avô e pai) que antecedem Duarte, o protagonista principal, tendo como cenário a nossa história, desde o Estado Novo até aos nossos dias.      A escrita é fluente e, no geral, quase poética:     "No rosto de Duarte, pensou Luísa,

Um Refúgio para a Vida, Nicholas Sparks (Editorial Presença)

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    Não sou particularmente fã dos livros de Nicholas Sparks, ainda que os considere ótimas receitas para filmes; na verdade, dos poucos livros que li do autor (3 ou 4) este é o único que aconselho.     Por conhecer o estilo e saber que a base dos romances deste autor é um casal jovem que se apaixona e que é atormentado por alguma tragédia do passado, decidi pegar no livro, já há uns anos na miha estante, porque queria uma leitura leve e que falasse de amor.     No entanto, após os primeiros capítulos, o livro consumiu-me totalmente, pelo que me vi forçada a "tirar um dia" do meu estudo para os exames para o ler de fio a pavio.     Ainda que a base se mantenha a mesma, consegui sentir densidade nas personagens e até credibilidade nas suas histórias. Sem querer desvendar o segredo da personagem principal, Katie, vou apenas mencionar que se trata de uma história bastante atual e cujo tema sempre me chamou a atenção.     Além do amor que se vai desenrolando, somos con

O Quarto de Jack, Emma Donoghue (Porto Editora)

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    Este livro tocou-me muito. Não deixo de admirar a autora pela sua capacidade de criar um livro desta dimensão mantendo uma narrativa constante na voz de uma criança de cinco anos.     Não me lembro minimamente dos meus pensamentos quando tinha cinco anos pelo que não posso avaliar a acuidade dos pensamentos de Jack - ainda que, em determinadas alturas, me pareça difícil que uma criança consiga desenvolver alguns dos raciocínios que Jack desenvolve. Independentemente disso, trata-se de uma história comovente sobre o amor de uma mãe pelo seu filho.     Jack e a Mamã estão encarcerados num quarto fechado, à prova de som, apenas com uma pequena clarabóia para permitir a entrada de luz natural. No quarto têm uma cama (que partilham nas noites em que não há visitas do Nick Mafarrico; quando as há, Jack tem de dormir no guarda-fatos), uma mesa, um fogão, um frigorífico, uma televisão, uma sanita, uma banheira...     A história começa quando Jack faz cinco anos e todo o seu mundo é a

Leituras de férias

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    Entre a Foz do Arelho, Oeiras e a Serra de Tomar, as férias passaram demasiado depressa. Tão depressa que pouco foi o tempo que consegui dedicar à leitura.     Comecei com As Três Mulheres de Antibes , do Somerset Maugham. Não li as badanas e não me apercebi que se tratava de uma colectânea de contos pelo que foi com imensa pena e alguma amargura que concluí o primeiro conto que dá o nome ao livro. Apetecia-me continuar na companhia daquelas três mulheres, obcecadas pelas dietas e pelo peso, próprio e das outras, e o apetite devorador com que soçobram, conjuntamente. à comida. Reconciliei-me entretanto com o autor  e o livro através da leitura de outros contos, sobretudo os que decorrem nas Guianas francesas. Quero ler este livro!     Depois li, quase sem conseguir p arar, O Quarto de Jack . , de Emma Don a ghue , finalista do Man Booker Prize e do Orange Prize, 2010. Comprado pela minha filha é um livro surpreendente que narra a vida de uma criança e da mãe, encar

As Serviçais, Katryn Stockett (Saída de Emergência)

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    Depois de o filme ter estado no Cinema e de me dizerem o quão bom era, decidi ler o livro que lhe deu origem - As serviçais, de Kathryn Stockett. Há muito que um livro não me prendia de semelhante forma. A despeito das suas 463 páginas, devorei-o em três dias - simplesmente não o conseguia pousar; precisava de saber o que se seguia.     Contado pelas vozes de Aibileen, Minny e Skeeter, são-nos dadas a conhecer as vidas das empregadas Negras no interior da América, durante o período de segregação racial, bem como das suas patroas - permitindo-nos entrar naquele tempo e aceder a um pouco da sua realidade.     Aibileen, a mais velha das três, trabalha ma casa dos Leefolt sendo que a sua habilidade é maior para tomar conta de crianças. Tendo perdido o filho, no final da juventude deste, Aibileen tem uma grande mágoa dentro de si, mas nem por isso deixa de dar todo o amor que tem à pequenina Mae Mobley Leefolt, desejando que esta não se torne igual a todas as demais crianças qu

O Gosto Proibido do Gengibre, Jamie Ford (Porto Editora)

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    Passado na América Pós-Pearl Harbor, conta a história de amizade e amor entre um menino chinês e uma menina japonesa.     Ambos nascidos na América e colegas na escola, vivem realidades muito diferentes. O pai de Henry é extremamente tradicional e quer que o filho termine os estudos na China, após a Guerra com o Japão. Acima de tudo, é um membro de elite da Chinatown de Seattle e o que mais almeja é a aniquilação de todos os japoneses.     Keiko é americana de segunda geração e nem sabe falar japonês. Mas, como os demais japoneses, é enviada para os campos de trabalho, com a família, para desespero de Henry. Os pertences de muitas famílias japonesas ficam guardados na cave do Hotel Panama, situado na entrada da Japantown de Seattle, entretanto entaipado.     Cerca de 40 anos depois do reencaminhamento dos Japoneses, Henry é confrontado com as coisas de Keiko, achados históricos na cave do Hotel que é reaberto, tendo novamente de reviver as suas memórias.     Sendo uma hi

Mrs. Craddock, Somerset Maugham (Livros do Brasil)

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    Passo com frequência numa pequena livraria (alfarrabista?) na Calçada do Combro. Sentado, perto da porta, está um velhote. Presumo que seja o dono. Percebe-se logo que gosta e conhece os livros. É o meu santo das causas perdidas: sempre que procuro um livro e não consigo encontrar, passo por lá. Embora, em regra, não o tenha, dá-me pistas onde procurar.     Na última vez que passei por lá, tinha uma pilha de livros de Somerset Maugham na mesinha ao pé da qual estava sentado. Não resisti e comecei a folheá-los. Perguntou-me logo se já tinha lido algum livro dele.     Fez-me olhar para os discretos desenhos que ilustram a capa (e a sobrecapa) dos livros desta coleção (e daquela época, embora não encontre qualquer referência ao ano desta edição).     Não resisti a Mrs. Craddock ,e ainda bem. Começa com um prefácio do próprio autor em que explica que o livro foi escrito no final do século XIX. Foi considerado muito ousado e depois de ter sido sucessivamente recusada a sua publ

No tempo das borboletas, Julia Alvarez (Bertrand Editora)

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    Há mais de dez anos fui a um congresso à República Dominicana. Tive oportunidade de conhecer apenas a capital. O povo dominicano, nos contatos que tive, pareceu-me afável e simpático. Sempre que me identificava como portuguesa invocavam o nome de Luís Figo e de outros jogadores de futebol. Um dia fomos surpreendidos por um indivíduo de uma certa idade, e com ar de sem abrigo, que quando nos identificou como portugueses, gritou Camões. Continuou a andar e passado um pouco, voltou-se para nós e gritou Pessoa. Fernando Pessoa.     Senti-me intimidada. Se a minha incapacidade de citar nomes de jogadores dominicanos era compreensível, já me impressionava o total desconhecimento da literatura e da história daquele país. Esta noção foi corroborada quando, num restaurante, no final da refeição e a propósito de uma moeda, me falaram das irmãs Mirabal, as mariposas, e me perguntaram se não conhecia a história delas. Era uma história tão marcante que Hollywood estava a fazer um filme s

Qualquer coisa de bom, Sveva Casati Modignani (Ed. Asa)

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    A minha filha Sofia ofereceu-me este livro há anos e resolveu lê-lo agora. Após lê-lo recriminou-me por não o ter lido, o que confesso, não me recordo. Também após a leitura resolveu concretizar algumas das receitas que a protagonista vai cozinhando.     Li-o. Não sei se por causa da recriminação se por causa das receitas que tive oportunidade de provar.     É um livro de leitura fácil. Uma história da Cinderela actual, só que o dinheiro não vem do princípe, que traz apenas o estatuto (é um veterinário muito conceituado), mas de uma herança.     Os capítulos são sempre acompanhados da descrição de pratos  e sobretudo de sobremesas que a protagonista vai cozinhando.     Por todo o livro passa a ideia que o dinheiro não só não traz felicidade, como pelo contrário, vem acompanhado de tristeza, doença... em suma, de infelicidade.     Como será que se concluiria a história da protagonista que no final do livro é uma mulher casada e rica?     Não sabemos porque, como acont

E se Obama fosse africano? e outras interinvenções, Mia Couto (Editorial Caminho)o)

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   Mais um livro do Mia Couto, desta feita uma compilação de intervenções com o curioso título de uma delas " e se Obama fosse africano? ".     Não direi o que aconteceria se Obama fosse africano, mas quer esta intervenção, que dá o nome ao livro, quer as outras, são reflexões atuais e espantosas sobre o mundo de hoje, particularmente centradas em África, Moçambique e os moçambicanos. Espantosa a crónica " Os sete sapatos sujos" .    E se de facto a maioria das crónicas nos fazem reflectir sobre a pobreza, a cultura, a língua, a violência contra as mulheres, outras, ou partes de outras, são absolutamente hilariantes, como " o sim do não ". Segundo o autor, em determinadas zonas rurais, perante uma questão que solicite uma resposta dicotómica sim/não, é sempre dito sim. E assim a resposta dada a um inquérito conduzido pela televisão moçambicana que perguntava " Sente que a sua vida está a melhorar?" um cidadão respondeu " Está a melh

Extremamente alto e incrivelmente perto, Jonathan Safran Foer (Quetzal Editores)

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    Li há uns anos este livro, que, segundo me lembro, também me foi recomendado pela Nélia.     Quando saiu o filme fiquei sobretudo curiosa: como seria possível transformar este livro num filme? Receei que o realizador utilizasse os elementos óbvios da narrativa, numa forma demasiado linear: a morte do pai no 11 de Setembro, o isolamento do filho, a dificuldade de comunicação entre mãe e filho...    Mas o filme é um deslumbramento, respeita a narrativa mas recria-a e reconta-a através da magia da imagem. Tenho pena de ter perdido o filme num grande écran e no silêncio de uma sala de cinema (ainda há algumas salas silenciosas, sem pipocas...) mas mesmo no écran reduzido do televisor é um deslumbramento. A procura da fechadura onde caberá a chave que Oskar pensa que o pai lhe deixou, leva-nos numa viagem pelas pessoas e pelas ruas de Nova Iorque ao encontro da familia que lhe resta. Fica aqui o trailer : *** Quero ler este livro!

Os Buddenbrook, Thomas Mann (D. Quixote)

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    No posfácio da edição portuguesa, Gilda Lopes Encarnação, que traduziu o livro e assina o posfácio, pergunta “ Que razões poderão levar um leitor do século XXI a interessar-se por os Buddenbrook, cento e dez anos decorridos sobre a data da sua primeira publicação? Que razões poderão levar um leitor português a interessar-se pela história de uma família burguesa do Norte da Alemanha, pela ascensão e declínio de uma casa comercial fundada numa antiga cidade hanseática, pelas venturas e desventuras de quatro gerações ao longo de quase meio século? ”     Feitas estas perguntas, o posfácio não avança qualquer resposta, limitando-se a sintetizar o livro. Mas estas perguntas impõem-se naturalmente.      A minha primeira resposta é a da qualidade da narrativa e da forma como ciclicamente o autor prende o leitor anunciando e antecipando rupturas ou mudanças significativa na vida dos protagonistas (“ Aproximava-se o ano de 1859 do seu fim, quando algo de terrível aconteceu… ”).  

Descascando a cebola, Gunter Grass (Casa das Letras)

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    O Pedro Valente ofereceu-me este livro há alguns anos. Iniciei e interrompi a sua leitura algumas vezes. Não sei se tinha a ver com o tema, com a narração, um pouco errática, de quem vai descascando a cebola e encontrando, camada após camada, recordações.     A imagem da cebola é interessante pois como diz o autor tem muitas camadas.   Só ao descascá-la fala verdade. Cortada, provoca lágrimas .     E esta é verdadeiramente a surpresa: a narração não tem tristeza, nem lágrimas. Talvez apenas estupefacção para a forma como o autor, então jovem, conviveu com este período da história alemã, com a guerra dentro e fora das fronteiras e com o regime nazi (" e de questionar o meu comportamento em determinadas situações ").     O livro assumido como um acto de exorcismo, ao fim de muitos anos, e que segundo se diz provocou a indignação geral de muitos leitores, é, a meu ver, e enquanto tal, um acto falhado.     Não me custa compreender/aceitar que um jovem desta gera