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A mostrar mensagens de 2014

Mendel dos livros, Stefan Zweig (Assírio & Alvim)

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    Começo por falar nesta edição da Assírio & Alvim. O livro é precedido de uma apresentação de Álvaro Gonçalves e de uma cronologia biográfica. Lê-lo, depois da leitura destes textos, faz toda a diferença. Só pela sua leitura sei que a história de Mendel dos livros é de 1929, o que o transforma numa escrita quase profética do que viria a acontecer, ao mundo (particularmente à Europa) e a ele próprio.     Mas a força do livro reside na personagem de Mendel, uma metáfora do mundo civilizado e culto, que vive para os livros ( à exceção dos livros, este homem estranho não sabia nada do mundo (...) e que é destruído pela campo de concentração onde é detido durante dois anos e depois pelas alterações havidas no café onde permanecia habitualmente e pela sua incapacidade de se adaptar aos novos tempos.      O livro é sobretudo uma reflexão poderosa sobre a memória, como funciona, e o que fica de nós ( Para que vivemos se o vento atrás dos nossos sapatos apaga as nossas últimas p

A ferver, Aventuras e desventuras de um cozinheiro amador, Bill Buford (Sextante Editora)

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    A ferver , um livro ferverosamente recomendado por alguns amigos e emprestado por um deles, é, como o próprio subtítulo indica, o relato das aventuras e desventuras de um cozinheiro amador, em cozinhas de diversos restaurantes, pelo puro prazer de aprender a cozinhar:     " Aprende-se trabalhando na cozinha. Não lendo um livro, nem vendo um programa de televisão, nem frequentando uma escola de culinária. É assim. " Foi por isso que Bill Buford decidiu trabalhar na cozinha de Babbo " como escravo do Mario (Batali)".     O livro lê-se muito bem, mas não se espere encontrar nele receitas ou truques culinários. Em vez disso, lemos e sofremos com  a descrição das horas passadas no posto da pasta, ou nos grelhadores ou a cortar cenouras (Eu estava a cortar cenouras há duas horas e, sem mais nada, elas foram atiradas fora, elas estavam mesmo muito mal) .     O livro surpreendeu-me pela descrição dos bastidores dos restaurantes de chefes famosos, mas também

Ao Sabor da Memória, João Araújo (Chiado Editora)

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    O João Araújo, autor de "Ao Sabor da Memória", é um amigo. Conheci-o através da Eloïse, uma amiga que fiz na escola de dança - e a quem ele faz uma declaração de amor lindíssima, no livro. Ofereceu-mo antes de voltarem os dois para França, em busca de uma vida melhor.     No fundo, é disso que o livro trata: da sua procura constante por uma vida melhor, de encontro aos seus valores, e que o preencha. É um livro autobiográfico, muito honesto e escrito com todo o coração. Apesar de algumas repetições de palavras e de, em meu entender, alguns lapsos de pontuação, é uma escrita simples e muito acessível, que dá vontade de ler - uma vontade acrescida por ser alguém com quem me relaciono.     Filho de gente simples, imigrantes em França, decide seguir a carreira de agente da Polícia de Segurança Pública, quando regressa a Portugal. A sua vida, longe de ter sido calma, foi pautada por frequentes desilusões - com pessoas, com instituições, com normas... Revendo, passo a pa

O Pintassilgo, Donna Tartt (Editorial Presença)

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     Este foi um livro que me cativou logo nas primeiras páginas. Está escrito de uma forma extremamente envolvente e completa, que nos faz sentir como personagens integrantes na trama.       Theodore Decker (Theo) tem treze anos quando é suspenso na escola por ser apanhado com um colega a fumar. No dia da reunião com o diretor, a mãe tira um dia de trabalho. Saem cedo de casa, com a mãe tão zangada com ele que mal lhe fala, e no caminho começa a chover, o que os leva a abrigarem-se no Metropolitan Museum of Art. Lá dentro, a mãe quer ver especialmente dois quadros: a Lição de Anatomia , de Rembrandt, e O Pintassilgo, de Fabritius (aluno de Rembrandt e professor de Vermeer). Enquanto contemplam este quadro, aproximam-se deles um homem velho e uma rapariga ruiva, que capta a atenção de Theo; o rapaz vê surgir a oportunidade de lhe falar quando a mãe decide voltar atrás para olhar novamente para a Lição de Anatomia . Os seus olhos cruzam-se no momento em que se dá a explosão que

Americanah, Chimamanda Ngozi Adichie (D. Quixote)

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    Não sei como vou passar os próximos dias sem a companhia de Ifemelu, a protagonista de Americanah.     Americanah começa em Princeton, onde Ifemelu reside durante uns tempos e onde não há (havia?) um cabeleireiro em que uma negra possa entrançar o cabelo. Ifemelu tem uma bolsa de investigação na universidade de Princeton, é autora de um blogue polémico sobre questões de raça, como é identificado, e que tem imenso sucesso. Decide, no entanto, e para surpresa de todos, regressar ao seu país, Nigéria.     A conversa no cabeleireiro que é forçada a entabular, obriga-a a justificar a decisão de regresso e a inventar razões ( arranjei emprego lá ...) mas o principal motivo para o regresso é Obinze, o seu amor de juventude. Este é o cenário de partida, mas daí circulamos por várias cidades dos EUA, pela Nigéria e pelo Reino Unido, para onde Obinze emigrara. E em simultâneo viajamos no tempo.     À infância e adolescência na Nigéria, seguem-se a partida e a descoberta da diferenç

A sombra da sereia, Camilla Läckberg (D. Quixote)

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       O segundo livro desta autora, oferecido pela minha mãe em conluio com a minha filha, ambas cúmplices no horror a policiais e às descrições de crimes e sangue a escorrer que, mais raramente do que creem, enchem as páginas dos livros policiais.     O efeito surpresa não existiu desta feita. A narrativa é muito simétrica à do outro livro: um crime acontece na tranquila vila de Fjallbacka, Patrik Hedstrom, inspetor, conduz a investigação e a mulher, a escritora Erica Falk vai investigando por sua iniciativa e acrescentando peças ao puzzle. A narrativa desdobra-se em dois momentos distintos, marcados também pelo tipo de letra.    Ao mesmo tempo que seguimos a investigação, vamos acompanhando a vida familiar de Erica e Patrik e restante família, marcada pela tranquilidade e pelos afetos em claro contraste  com os crimes que investigam.      Se o efeito surpresa não existiu, porque a forma como o livro está estruturado é muito similar ao d' A Ilha dos Espíritos - cuja ação é p

Um homem muito procurado, John Le Carré (D. Quixote)

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    Mais um livro que, na contracapa, promete que não o conseguiremos pousar; mais um livro que só me apetecia pousar e que foi uma enorme deceção. Honestamente não consegui perceber a ideia... E um livro que fica só na superfície, como um trabalho incompleto redigido por um aluno preguiçoso e sem capacidade de aprofundar ideias.     Issa Karpov chega à Alemanha em muito mau estado e recorre a um Santuário para imigrantes ilegais e à sua advogada Annabel Richter, proveniente de uma família muito influente na área do Direito. Issa tem de reclamar o dinheiro do pai, que renega por ter sido um bárbaro russo, que violou a mãe chechena, e que está depositado numa conta semi-secreta no banco privado de Tommy Brue, que também se torna aliado deles. Entretanto, o próprio Issa está a ser espiado por vários Serviços de vários países, pelos quais é considerado um terrorista da pior espécie... Mas por outro lado acaba por ser o isco para um outro suposto terrorista... O fim mais parece o meio

A mancha humana, Philip Roth (D. Quixote)

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   Cada vez mais me parecem semelhantes as relações entre pessoas e entre pessoas e livros. Relacionamo-nos com os livros com com as pessoas: apaixonamo-nos, traímos, cansamo-nos, abandonamo-los temporária ou definitivamente...e muitas vezes tinha tudo para dar certo. Foi o caso deste livro: o autor é excelente, o livro aplaudido pela crítica, o tema fascinante. E ao lê-lo sabemos que é bom, que corresponde à expetativa, contudo, impacientamo-nos para que acabe. Aguardamos pela última página e apetece dizer como dizemos às pessoas:"não és tu, sou eu".      No caso deste livro, sou eu seguramente a responsável pela impaciência. A minha incapacidade de abandonar os livros agrava-se com os autores que conheço e aprecio. Não consegui por isso abandonar a leitura, mas a dado passo senti que nos arrastávamos, o autor na escrita e eu na leitura, sem vislumbrar a razão para qualquer um de nós.      Os argumentos a favor do livro são muitos: o autor, o facto de o livro  ter re

Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley (Editora Livros do Brasil)

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    Publicado pela primeira vez em 1932, o Admirável Novo Mundo retrata uma sociedade futurista cujo único princípio fundamental é a felicidade. Nesta sociedade, não se conhecem os conceitos de mãe, pai, família, Deus ou amor.      Cada invíduo foi um bebé-proveta e, de acordo com a a posição que ocupará na sociedade, assim é adequadamente condicionado, quer genética, quer psicologicamente, não só para se adequar ao seu lugar, como para ser feliz nele.      E é aí (...) que está o segredo da felicidade e da virtude: gostar daquilo que se é obrigado a fazer. Tal é o fim de todo o condicionamento: fazer as pessoas apreciar o destino social a que não podem escapar.   Nesta sociedade, é fomentado o convívio constante e desencorajada a monogamia; é a sociedade do soma , uma substância química que permite aplacar quaisquer princípios de um qualquer sentimento mais violento - tristeza, paixão, solidão, medo...- e toda a gente vive feliz e conformada.     O mundo é estável,

Mil Sóis Resplandecentes, Khaled Hossini (Editorial Presença)

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   Mil Sóis Resplandecentes é um livro que relata a vida de duas mulheres afegãs, Mariam e Laila, que, pelos malogros da vida se veem ambas casadas com um homem absolutamente primitivo.      Mariam é filha ilegítima de um homem abastado, dono de um cinema em Herat, casado com três mulheres, e da sua antiga criada. Cresce na ânsia de agradar o pai, que idolatra, ignorando os queixumes constantes da mãe que tenta envenenar a relação da filha e do pai, dizendo que ele não passa de um mentiroso que no fundo não quer saber dela. "Sabes o que ele disse às esposas, à laia de defesa? Que eu é que o seduzi . Que a culpa era minha. Didi? Percebes? É isto que significa ser mulher neste mundo. (...) Aprende já isto e aprende bem, minha filha: assim como a agulha de uma bússola aponta para o norte, também o dedo acusador de um homem encontra sempre uma mulher. Sempre. Recorda-te disso, Mariam."       Ignorando os avisos da mãe de que morreria se ela a abandonasse, quando faz

A Rapariga Inglesa (Gabriel Allon #13), Daniel Silva (Bertrand Editora)

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    Tenho de confessar que este livro foi uma grande deceção. Depois de tanta publicidade por parte das editoras e de diversas pessoas nas redes sociais, fiquei curiosa e pensei que seria um excelente livro para as férias - daqueles que nos prendem a atenção e não nos deixam pousá-lo. Não aconteceu isso comigo. Pelo contrário, por várias vezes a minha atenção dispersava menos de um minuto depois de ter pegado no livro.     Sobre a rapariga inglesa propriamente dita, Madeline Hart, aspirante a uma carreira política de sucesso e que era amante do primeiro ministro britânico, há muito pouco. O livro fala basicamente dos serviços secretos de Israel - já que o espião destacado para encontrar a rapariga é Gabriel Allon, ao serviço desses serviços secretos -, e do modo como a Rússia - apresentada como o maior e mais temível inimigo das potências ocidentais - procura explorar o petróleo encontrado em território britânico, também com recurso aos seus serviços secretos. Mesmo o twist fina

A ilha dos espíritos, Camilla Läckberg (Dom Quixote)

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   Um dos meus maiores prazeres nas férias de verão é a leitura de um bom livro policial. Ainda não tinha lido nenhum desta autora e confesso que a leitura do livro me prendeu desde o início. A história é muito complexa e à trama policial soma-se a vida familiar e a envolvência social e politica de uma pequena comunidade sueca.      Embora o crime que desencadeia a investigação seja o homicídio aparentemente inexplicável de Matts Sverin, a trama centra-se sobretudo na questão da violência doméstica e nos efeitos e consequências que desencadeia.     O livro decorre em dois contextos temporais e espaciais, no presente em Fjällbacka e, no passado, em 1870, na ilha de Gråskär. Mas em ambos o crime de violência doméstica é o detonador da sequência de eventos que constitui o cerne do livro.      O final é absolutamente inesperado e constitui uma reviravolta na investigação e na perceção que o leitor foi construindo durante a sua leitura, mas reduzir este livro a um mero policial é m

Por favor cuida da mamã, Kyung-Sook Shin (Porto Editora)

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   Li este livro por sugestão da minha irmã, mais curiosa por livros de autores de países longínquos. Num mundo crescentemente globalizado, os livros permitem preservar a especificidade das diferentes culturas e, ao mesmo tempo, que os leitores, de diferentes latitudes e longitudes, atalhem caminho e mergulhem numa realidade distinta daquela que constitui o seu quotidiano. Mas, salvaguardadas as diferenças, permanecem sempre muitas semelhanças, sobretudo que no que toca as relações familiares e afetivas.       O livro é curioso quer pela estrutura da obra, quer pela opção de narrar a história utilizando a segunda pessoa do singular: A família está reunida na casa do teu irmão mais velho ...No princípio pensamos que se trata da mãe, que vai assistindo à busca que os filhos e o marido encetam à sua procura. Mas depois percebemos que esta opção confere maior proximidade ao narrador.               A história é simples: Park So-nyo, casada, mãe de 5 filhos adultos, vai com o mar

O Primeiro Homem de Roma (Amor e Poder #1), Colleen McCullough (Difel)

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    Este livro, aconselhado por vários membros da família, é o primeiro de oito volmes sobre o império romano.       Com início no ano 110 a.C. segue essencialmente Caio Mário, "um novo rico vindo do meio rural, um militar, com a reputação de não saber falar grego" e Lúcio Cornélio Sila cujas origens patrícias, "que remontavam aos tempos que antecediam a própria fundação de Roma", o tornavam "eminentemente elegível para a glória total de ascensão política". A ambição máxima de qualquer político era tornar-se o Primeiro Homem de Roma; no entanto, os entraves para sequer entrar na política eram sempre muitos. O primeiro deles era tão-só o sangue, o nascimento. Para ser cônsul, era necessário provir de famílias patrícias, e possuir nome identificativo de tal. Além disso, era necessário pagar avultadamente.      Caio Mário, como novo-rico que era, possuía riqueza suficiente, e feitos militares distintivos, mas não tinha ascendência apropriada ao consula

O Sétimo Juramento, Paulina Chiziane (Sociedade Editorial Ndjira)

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    Um mergulho no mundo obscuro da Magia Negra, numa África atual devastada por guerras, greves e muita corrupção, este livro é também a denúncia de uma realidade a que preferimos fechar os olhos.     David, antigo revolucionário que lutou pelos direitos dos trabalhadores, é agora diretor de uma empresa estatal da qual desvia fundos sem os quais não consegue, há mais de seis meses, pagar os salários aos operários.     «Não se trata de fraude, nem de roubo. Foi uma transferência de fundos, uma espécie de empréstimo para criar capital, cuja reposição será feita na devida hora. Um diretor que se preza deve ter capital próprio, uma representação compatível com o cargo.»     Na iminência de uma greve e de um golpe dos seus suburdinados imediatos, que pretendem denunciá-lo e levá-lo à demissão, David desespera e procura a solução dos seus problemas na magia negra, incentivado pelo seu amigo, também diretor fraudulento e antigo revolucionário, Lourenço.     «Sou herói. Aos h

Gente feliz com lágrimas, João de Melo (Leya, SA)

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        O título deste livro é belíssimo. Há muito que alimentava a vontade de o ler devido sobretudo ao título. Foi uma feliz coincidência tê-lo lido depois de uns dias passados nos Açores, com a recordaçao ainda presente da neblina, do mar, das ilhas, das vacas, das hortênsias e das criptomérias. E com a lembrança da igreja, omnipresente. Quando foi pubicado em 1988 foi considerado um romance inovador na estrutura, mas penso que ainda o é. Apresenta-se dividido em cinco livros.      O livro primeiro, O tempo de todos nós , tem um capítulo inicial com o título Um qualquer de nós . Os restantes capítulos deste livro são narrados à vez pelo Nuno Miguel, Maria Amélia e Luís Miguel, irmãos mais velhos de nove filhos sobreviventes.  Neles apresentam-se na primeira pessoa do singular, mas como se falassem com alguém, eventualmente um entrevistador ou um biógrafo. Não contam realidades distintas, mas visões pessoais de uma infância partilhada e infinitamente triste a que Nuno Miguel e

O Gatilho, Tim Butcher (Bertrand Editora)

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        O livro O Gatilho tem o subtítulo No rasto do assassino que levou o mundo para a guerra . Em junho deste ano passaram exatamente 100 anos sobre o assassínio do arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do império austro-húngaro, que, como é sabido, conduziu à primeira guerra mundial. Tive curiosidade em ler quer porque conheço muito pouco da primeira grande guerra, quer por saber que muitas das guerras posteriores no espaço europeu resultaram desta primeira guerra mundial e, consequentemente, do acontecimento que lhe deu origem.       O autor, repórter de guerra, acompanhou a guerra da Bósnia. Anos mais tarde regressa à Bósnia e Herzegovina para procurar o rasto e os motivos que levaram um jovem sérvio, Gavrilo Princip, a empunhar o revólver e a disparar contra o herdeiro do império.      A pesquisa e o seu relato são acompanhados da descrição da vida atual naquele novo país, bem como da recordação omnipresente  e constante da guerra. Reconhece, a propósito da guerra do

O Homem da Carbonária, Carlos Ademar (Oficina do Livro)

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    Nos primeiros anos após a instauração da República portuguesa, o chefe de segurança de  S. Bento aparece morto a tiro, no Jardim da Estrela, sem carteira nem arma. Durante a invesigação são colocadas diversas hipóteses para a causa do homicídio, entre as quais a sua ligação à Carbonária, uma seita semelhante à Maçonaria mas maioritariamente constituída por trabalhadores do povo, fundada em Itália.     Apesar de bem escrito, não foi um livro que me fascinou. Já li mais livros deste autor e o meu favorito continua a ser a Primavera Adiada . Penso que este romance - O Homem da Carbonária - foi essencialmente um esforço para contar os anos conturbados que se seguiram à queda da Monarqia e até se dar o golpe que levou ao período ditatorial português. No entanto, o modo como os dados históricos foram introduzidos não está muito bem conseguido, sendo um pouco forçado e implicando a interrupção da narativa. *** Quero ler este livro!

How the soldier repairs the gramophone, Sasa Stanisic

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    Depois de ter procurado este livro - em português - em vão, a Lucinda enviou-mo em inglês. Sasa, ou melhor, Aleksandar, protagonista e narrador de quase todo o livro, reside em Visegrad, antes da guerra, numa Jugoslávia ainda presidida por Tito. Vive a vida de uma criança, protegida pelos pais e pelos avós e marcada sobretudo pelo avô paterno. Uma criança comum mas original, que conta os passos que dá, os segundos antes de beber o leite e deixa sempre os desenhos incompletos. A guerra vai-se anunciando e insinuando no dia a dia dos adultos e deixando dúvidas e receios nas crianças.     Apesar dos avisos a guerra chega brutal e surpreendentemente a Visegrad e Aleksandar e os pais fogem para a Alemanha. Anos depois Aleksandar regressa à Bósnia e Herzegovina e a Visegrad. O regresso foi antecedido por telefonemas repetidos à procura de Asija, uma rapariga muçulmana, órfã, que conheceu quando se refugiaram dos ataques. A morte de Tito e o fim da Jugoslávia coincidem com a morte do

Amor e Dedinhos de Pé, Henrique de Senna Fernandes (Instituto Cultural de Macau)

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    Contrariamente ao que me é habitual, comecei este livro sem ter a mais pequena ideia de qual era o tema; apenas com a recomendação da minha tia que, ao mo emprestar disse “É muito bonito!”. E é mesmo.     Passado em Macau, conta a história de Francisco Frontaria e como este passou a Chico Pé-Fêde, e de Vitorina Vidal, e como se tornou Varapau-de-Osso. De uma forma simples e bonita, sublinha a relevância das nossas decisões e comportamentos, e ressalva como a redenção e a reabilitação são sempre possíveis, desde que exista vontade e uma mão estendida. Assim, e mais importante, descobrimos como Chico Pé-Fêde voltou a ser Francisco Frontaria e como Varapau de Osso voltou a ser Vitorina Vidal, unidos por um amor imprevisto tanto por eles como pela sociedade que os rodeava.     O autor começa o livro com um “Ao Subir do Pano”, onde declara:   “Esta é uma obra de ficção, todavia inspirada numa história antiga que escutei, entre riso e comentário jocoso (…) era eu menino e mo