Filhas de uma nova era, Carmen Korn (Planeta)
A história emocionante de quatro mulheres que enfrentam os momentos cruciais do século XX com a força da amizade.
Depois de lido este livro, que na contracapa é apresentado como sendo "a primeira parte de uma emocionante saga", sei que não lerei a outra ou outras partes. Gosto de sagas contadas pela mão e voz de mulheres, como Cisnes Selvagens ou As Irmãs Soong, ambas de Jung Chang, os quatro volumes da A Amiga Genial, de Elena Ferrante, ou ainda o maravilhoso romance de estreia de Isabel Allende, A Casa dos Espíritos. Mesmo a tetralogia da Luísa Beltrão (Os Pioneiros, Os Impetuosos, Os Bem-Aventurados e Os Mal-Amados) de que li com alguma reserva os dois últimos volumes, conseguiu cativar-me, porque ficamos reféns do final da história que não acaba com as personagens que conhecemos no início, mas que prossegue com os filhos e os netos, que vivem em ambientes e realidades muitos distintos. E ficamos a conhecer a história das personagens e dos respetivos países.
Talvez tenha sido esse o elemento que mais me atraiu, porque pensei que seria interessante conhecer o ambiente que se vivia na Alemanha, antes e durante a II Guerra Mundial. Mas é, também desse ponto de vista, uma desilusão. Para além da noite de cristal e das crescentes proibições que vão recaindo sobre os judeus, não há uma palavra sobre os campos de concentração e sobre o extermínio levado a cabo nestes campos. Uma referência apenas a campos de concentração nos Urais, onde estão detidos soldados alemães. A Gestapo prende e tortura mas nada mais é dito. Os berlinenses sofrem sobretudo no final e depois da guerra. Mesmo sobre a noite dos cristais, em que vários judeus foram mortos e outros detidos e levados para campos de concentração, fala brevemente nas atrocidades e nos vidros partidos e lojas pilhadas. Não será desta forma que as gerações mais novas conhecerão e poderão reconciliar-se com o passado.
Quanto às personagens femininas, a história
centra-se essencialmente em duas, Henny e Käthe, ambas parteiras. Na
leitura da contracapa fala em quatro amigas inseparáveis, mas se não
fornecesse também o nome das outras duas mulheres, não teria
capacidade para as indicar, porque são de facto personagens
secundárias. Talvez a relação entre as quatro se estreite nos
outros volumes. As personagens são pouco consistentes, bem como as
respetivas histórias e percursos. Por exemplo, a propósito de Ida,
uma filha de família que se casa contra vontade para evitar que o
pai vá à falência, no mesmo parágrafo é referido que se a mãe
estivesse viva ter-se-ia oposto ao seu casamento e, duas linhas
depois, é dito que a filha se viu sujeita à pressão para se casar,
desta forma cumprindo o último desejo da mãe (pg. 93). Ridículo também o segredo do passado de Lina que é mantido em segredo até quase ao final.
Confesso ainda que o fim me irritou profundamente, por ser praticamente decalcado do Doutor Jivago (do filme, porque tenho ideia que este desencontro no elétrico não acontece no livro) e por tentar apelar à leitura do segundo volume. Que não lerei.
Ao ler, recordei imagens do documentário Debaixo do céu, longa metragem de Nicolas Oulman, em que conta o êxodo de milhares de judeus logo após a ascensão de Hitler ao poder, em que ouvimos vários testemunhos sobre o ambiente que se vivia na Alemanha nesse período e como contrastam com as descrições ligeiras feitas neste romance.
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